20/09/2011

Melhorando o desempenho na edição de vídeos AVCHD

Apesar de já existir um vídeo aqui no blog sobre esse tema, resolvi escrever esse artigo para atender aos pedidos de diversos amigos que tem seguido o blog. Antes de mais nada quero agradecer mais uma vez a audiência de todos que acompanham meus posts. O tempo é curto e manter o blog demanda muito trabalho. Fico muito contente quando vejo que o esforço tem ajudado de alguma forma quem precisa de uma força.

Antes de mais nada quero esclarecer que vou emitir algumas opiniões nesse artigo que não se tratam de discriminação com quem usa programas não profissionais de edição ou usa equipamentos, digamos mais amadores. Como todos devem ter visto em meus vídeos, eu sempre falo que o foco do blog são as pequenas e médias produtoras. Então sempre procuro mostrar soluções e produtos voltados ao nosso mercado.

Sei que muitas delas tem um preço alto para alguns colegas. Infelizmente esse mercado é caro mesmo. Isso é devido principalmente a falta de políticas públicas do governo no sentido de ajudar nossa classe. Ainda outro dia escrevi um artigo sobre a nova Lei do Cabo, publicada pela presidente Dilma no dia 12/09/2011. La eu levanto essas questões. Sem dúvida que a nova lei vai beneficiar os produtores de conteúdo nacional, principalmente as pequenas e médias produtoras, que tiveram alguns direitos garantidos. Entre eles a obrigatoriedade de uma cota mínima de exibição de conteúdo nacional realizado por produtoras brasileiras de conteúdo.

Assim, todos que possuem produtoras de vídeo, mesmo em pequenas cidades, se tornam candidatos a fornecer conteúdo regional com cunho educativo e disseminador da diversidade cultural de nosso país. Mas será preciso também que nós, esses pequenos e médios produtores, invistamos em novos equipamentos e principalmente em qualidade e profissionalismo.

Dito isso vamos ao tema desse artigo. Hoje quase todos os profissionais que cobrem eventos sociais estão usando câmeras de vídeo baseadas em formato AVCHD. Desde os modelos mais baratos e semiprofissionais até modelos mais sofisticados, os novos equipamentos trabalham com cartões e alta definição.

Mesmo os que ainda utilizam câmeras mais antigas como a Z1 ou Z5 que ainda utilizam fita miniDV, costumam gravar em alta definição e depois exportar em baixa qualidade para produzir os DVD’s com o trabalho final. Muitos profissionais já estão inclusive sendo solicitados a entregar também o produto final em Bluray.

Um detalhe que sempre me chama a atenção é o fato desses colegas preferirem editar em softwares não profissionais como o Pinnacle Studio, Avid Studio ou Sony Vegas. E quando pergunto a razão escuto sempre a mesma resposta: Porque uso muito os efeitos especiais Hollywood FX ou efeitos nativos de placas como a Matrox RTX2. Outros alegam que os programas profissionais como Adobe Premiere, Avid Media Composer ou Final Cut são complicados de usar.

Há outro detalhe importante que tem me feito pesquisar bastante sobre esses softwares e sua interação com os equipamentos de edição: o desempenho dos computadores. Tenho recebido muitos pedidos de colegas que solicitam configurações para montagem de máquinas devido a lentidão dos computadores que estão usando. Outros me mandam queixas de baixo desempenho e me enviam configurações que me parecem ser bastante boas.


Nesses casos eu sugiro algumas pequenas modificações e os colegas reportam que não surtiram efeito ou melhoraram muito pouco o desempenho geral. Em todos esses casos, o ponto em comum é que a maioria usam softwares não indicados para uso profissional. Então vou tentar resumir por tópicos as conclusões que tenho chegado em minhas pesquisas e na prática de uso e montagem de sistemas de edição. Vou resumir por tópicos para facilitar a leitura e porque para cada um deles provavelmente vocês encontrarão artigos ou vídeos completos sobre o assunto aqui mesmo no blog e em outros locais na internet.

Programas de edição domésticos:

Muitos podem pensar que eu implico com eles. Mas vejam:

1. Porque os fabricantes iriam lançar um programa profissional na casa dos R$ 2 mil reais ou mais e ao mesmo tempo iriam vender programas custando 10 vezes menos com as mesmas funcionalidades e poder?
2. Os programas de uso doméstico, porque são isso que eles são apesar dos diversos recursos de efeitos e tal, usam muito menos DLL’s e drivers, são mais fáceis de escrever pelos programadores e pagam menos direitos autorais a terceiros pelo uso de tecnologias;
3. Esses programas geralmente rodam em 32 bits, pois a maioria dos computadores onde serão usados não possuem sistemas de 64 bits;
4. Eles não possuem suporte técnico adequado, pois o time de programadores é pequeno e os laboratórios dos fabricantes possuem poucas maquinas para teste de bugs e interação com novos hardwares;
5. Não há interesse pelos produtores desses programas em fazer parcerias com fabricantes de placas de vídeo, processadores e placas de captura para desenvolver produtos e drivers específicos para eles, já que o lucro com a venda desses programas é pequeno em relação ao obtido com a linha profissional;
6. Do outro lado a maioria dos fabricantes de hardware investe tempo e dinheiro em projetar e comercializar componentes mais caros e com aplicação profissional, que além de maior lucro dá mais status e credibilidade as marcas que comercializam.
7. Muitos desses programas, pela falta de equipes de desenvolvedores e pouco contato com os usuários, tem bugs não solucionados que muitas vezes tornam os sistemas operacionais e mesmo o hardware do computador mais lentos e sujeitos a erros.

Programas de edição profissionais:

1. São a menina dos olhos dos fabricantes. O mercado global é grande, os usuários são mais exigentes e possuem engenheiros de sistema que cobram solução de problemas e até colaboram no projeto de desenvolvimento;
2. A disputa nesse mercado é acirrada e o sucesso de um programa dá status ao fabricante e aos demais produtos que ele comercializa em outras áreas fora da edição de vídeo;
3. Os fabricantes mantem equipes de colaboração nas fábricas de equipamentos como no caso da Adobe e da Nvidia, que tem nas duas empresas grupos de trabalhos conjuntos desenvolvendo aplicativos, drivers, programas e modelos específicos de hardware para seus produtos. Caso do Mercury Playback Engine da Adobe e as placas Nvidia;
4. O suporte técnico está disponível 24 horas por dia tanto nos fabricantes de software como nos de hardware e se empenham em resolver o problema do usuário;
5. Os bugs são resolvidos rapidamente porque tantos os projetistas dos programas quanto os dos equipamentos possuem em seus laboratórios de testes computadores montados com todos os modelos de hardwares certificados;
6. Prestem atenção no tópico anterior: Essa é a razão dos fabricantes de determinado programa de edição publicarem uma lista de certificação de equipamentos. Não quer dizer que outros similares não vão funcionar. Mas está claro que os que eles indicaram foram testados e tem exemplares nos laboratórios para ajudar e simular os defeitos relatados pelos usuários;
7. Os novos hardwares lançados pelos fabricantes de processadores e chips para placas de vídeo, controle de discos rígidos e memórias são testados antes com a maioria dos programas dos parceiros e já vem otimizados para eles.

Quais as reais vantagens do uso de programas domésticos?

1. Muitos colegas me reportam que usam pela facilidade, alegando que os programas profissionais são complicados. No meu ver isso é apenas questão de costume. Eu já acho complicado usar os softwares domésticos. Apanho muito se tiver que editar em um deles. Isso é apenas questão de hábito de uso. Tal como quando trocamos de carro ou dirigimos o carro de outra pessoa. No começo tudo parece meio estranho, mas depois de alguns minutos pegamos o jeito.
2. Os famosos efeitos especiais e transições de vídeo. Aqui é um ponto delicado. Uma questão de gosto. E lembrando uma brincadeira de meu velho pai eu digo: gosto não se discute, educa-se!
3. Por que eu disse isso? Muitos colegas me relatam que os noivos ou os pais de crianças adoram os tais efeitos especiais. E que se não usarem não pegam o trabalho. A concorrência usa e tal. Mas como falei, é questão de educar seu cliente. Basta fazê-los ver os programas de televisão e filmes. Por acaso usam aquelas transições, muitas vezes de gosto duvidoso entre as cenas? Raramente e somente se o scrip precisar de um auxílio visual como nas passagens de tempo dos filmes antigos onde se usava o fechamento da lente e a abertura para mostrar a passagem de tempo. Acabou virando o fading in e out com ou sem quadrado, círculo, etc;
4. A verdade é que um bom vídeo ou filme, seja ele um casamento, aniversário de criança ou uma superprodução de televisão usa outros artifícios para criar beleza. É o som perfeitamente captado, os efeitos sonoros, trilha musical, imagem irretocável, bons planos, bons cortes e iluminação. Somente isso.
5. E se vamos querer fornecer conteúdo para os novos canais nacionais que vão surgir com a mudança da lei, precisamos nos habituar a trabalhar dentro da linguagem estética da televisão e do cinema. E principalmente cuidar da qualidade de som e imagem.
6. Quando você editar um casamento inteiro usando apenas corte seco entre as cenas verá quanto mais fácil ficou a edição e principalmente a modificação de seu produto final, caso o cliente queira mudanças depois de ver o vídeo para aprovação. Vai fazer isso em uma cena com uma longa fusão ou outro efeito. É trabalheira na certa.

Equipamentos de filmagem e edição, o caminho das pedras passo a passo:

1. Sua câmera antiga em baixa definição vai resistir quanto tempo mais de uso?
2. Certo. Vai ter que comprar uma nova. Ela já será em alta definição, usará cartão SDHC ou outro mais sofisticado e vai trabalhar em AVCHD. Não tem jeito. É a tendência no mercado mundial.
3. Ainda vai entregar seu produto em DVD? Sim meu cliente quer dessa forma. Ok. O cliente manda. Mas ele e você querem qualidade não é mesmo? Claro! Então capte as imagens em alta definição na melhor qualidade possível. Entregue o trabalho final em SD no DVD mas queime um Bluray e guarde com você. Daqui a um tempo seu cliente vai te pagar mais um dindin para ver o casamento no Bluray novo que comprou.
4. A qualidade na hora da passagem da alta para a baixa ficou péssima? Em vez de converter o vídeo de alta para baixa na gravação do DVD, abra um projeto em baixa definição, coloque na timeline os vídeos em alta definição e diminui o tamanho usando a escala ou o crop. Depois exporte normalmente em baixa e veja a diferença no resultado do DVD. Nesse caso guarde o conteúdo bruto em alta para uso futuro e cobre a mais se o cliente quiser uma nova versão em Bluray.
5. Vai editar em AVCHD direto do cartão? Prepare sua ilha! O formato é pesado mesmo. Use um programa que trabalhe com o processador da placa de vídeo para editar sem render em tempo real. O Premiere CS5 faz isso.
6. Mas eu uso o Studio da Pinnacle! Troca! Mas o Avid Studio HD diz que usa aceleração de hardware e eu continuo tendo travamento! Vai no site da Avid e tenta ler alguma coisa mais consistente sobre isso. Não vai achar. Vai no site do seu fabricante da placa de vídeo e procura o drivers certo para o Avid Studio. Não vai ter.
7. E o que eu faço? Já coloquei mais memória, mais disco rígido, uma placa de vídeo ótima para games de última geração e meu processador é um i7. Ainda sim estou tendo problemas! Ainda te digo que o problema é o software e provavelmente a máquina com bons componentes mas mal configurada.
8. Se vai editar em AVCHD e usar software doméstico, não vai ser qualquer i7 que vai resolver o problema. E isso não é o pior! Você vai ter que usar força bruta. Tem que pegar o melhor processador i7 do mercado, que custa 5vezes mais caro que um i7 normal, overclocar corretamente e ainda sim o ganho vai ser de no máximo 30% de desempenho e economia de tempo se estiver usando o programa de edição errado.
9. A matemática é assim: Procesador i7 990x de R$ 2.500,00 mais programa doméstico=desempenho um pouquinho melhor. Processador i72600K de R$ 550,00 overclocado corretamente mais software de edição profissional=desempenho 90% melhor. O que vc prefere?

Fugindo do AVCHD!

1. Sua câmera nova só grava em AVCHD. Imagem muito boa mas muito comprimida exigindo muito do computador. Tem jeito? Sim! Instale uma placa de captura que tenha entrada HDMI ou HD SDI e seja feliz!
2. Você vai gravar no cartão em AVCHD e na hora de capturar o material vai perder um tempinho a mais capturando o vídeo como vídeo sem compressão de alta qualidade. Como fazer? Simples. Ligue sua câmera no modo player, conecte um cabo HDMI ou SDI nela e em sua placa de captura e de play. Enquanto captura, vai tomar um café ou tirar um cochilo.
3. Quando terminar tudo, você terá seu vídeo em alta definição em um formato AVI sem compressão. É pesado? Sim. Mas muito menos que o AVCHD pois não exige CPU para descompactar os quadros. O computador tem que ser bom? Sim! Sempre! Mas a edição ficará mais fácil.
4. E para guarda os 4 teras do vídeo capturado? Não precisa. Quando terminar de editar o vídeo, queima um Bluray de dados no formato H.264 em alta definição e guarda. Seu vídeo de duas horas vai ficar com 4 Gigas e com qualidade para editar futuramente se o cliente quiser outras cópias.

Mas e a configuração que você prometeu?

1. Certo! Promessa é dívida. Mas milagre somente com meu Padinho Padre Ciço! Se for para usar Premiere CS5 ou Avid Media Composer ou Final Cut (o mais lento dos três) a receita de bolo é fácil. Está em milhares de sites de editores de vídeo profissional, está nos sites da Adobe, da Avid e da Apple e dos fabricantes de hardware.
2. Mas eu digo aqui! Anote: Placa mãe Asus Z68, Processador Intel Core i722600K com um overclock suave. Dezesseis Gigas de RAM DDR3 1600, 1 HD SSD Corsair 120 Gb somente para sistema e programas. Quatro HDD Seagate Barracuda Sata III de 1 Tera (dois juntos em raid0 mais outros 2 juntos em raid0) sendo um conjunto somente para capturar os vídeos e o outro para preview, vídeos exportados, fotos e músicas. Um gabinete enorme e com muita ventilação e um cooler de CPU Coolermaster Hyper 912 (um quilo de metal e ventilador). Sistema Windows 7 profissional de 64 bits aliviado de tudo que não precisa, inclusive Internet Explorer e efeitos Windows Aero. Instala tudo, roda o Índice de Experiência de Usuário e se a nota for acima de 7.5 (o máximo é 7.9) você fez tudo direitinho e sua máquina agora é um avião.
3. E não esquece de jogar fora aqueles CD de instalação do seu programa doméstico e instale o Premiere Pro CS5.5 com todas as atualizações de drivers e firmwares mais recentes para seu equipamento.
4. Agora, se quiser continuar usando os programas domésticos somente por causa das transições mirabolantes... somente no Juazeiro com meu Padinho Padre Cícero!

Grande abraço a todos vocês e desculpem as brincadeiras. Mas o papo foi sério!

Marcelo Ruiz