06/03/2013

Qual câmera devo comprar?




Essa pergunta poderia ser a questão final feita ao protagonista do filme "Quem quer ser um milionário?", pois é a pergunta do prêmio de1 milhão de verdinhas! A partir do final dos anos 90, com o lançamento das filmadoras digitais de custo acessível, como a Canon XL1 (1997), seguida pela Panasonic AG-DVX100, que fez enorme sucesso entre os realizadores independentes e culminando, em 2004, com o lançamento da Sony HVR-Z1U, que foi a primeira câmera com 3CCD a gravar em 1080 linhas, o mercado de produção audiovisual de baixo custo e mesmo o segmento de produções mais caras, vem passando por uma profunda transformação.


Eu diria, mesmo, um terremoto. E como nos dias que se seguem a um cataclisma de grandes proporções, tudo ficou bagunçado e as pessoas andando meio sem rumo entre os  escombros. Poderíamos pensar também em uma cena do famoso seriado “The Walking Deads” onde nós, os videomakers, seríamos os zumbis vagando pela cidade deserta e, ao avistarmos uma carne nova no pedaço (uma notícia de lançamento de um novo modelo de câmera), começaríamos todos, com aquele andar trôpego, a caminhar em direção a vítima. Ávidos por abocanhar um naco da novidade.



Canon XL1-S: rodou o primeiro longa totalmente captado em uma camcorder de baixo custo
 (Full Frontal - 2002 - de Steven Soderbergh)

Realmente o mercado está um caos. Saber, nesses tempos onde a cada seis meses um modelo/sistema novo é lançado compulsivamente pelos fabricantes, de olho no lucro fácil, o que escolher, é realmente a pergunta de 1 milhão de dólares. Eu sempre defendi a opinião que produtora de vídeo devia ser bem equipada. Critiquei, muitas vezes, produtoras meia-boca que anunciavam mundos e fundos e não tinham um microfone picolé decente no almoxarifado. E que quando pegavam um trabalho, era aquela correria, para alugar de outras empresas, ou arranjar emprestado os diversos equipamentos para montar o set e realizar a produção.



Panasonic AG-DVX100: o sonho do pequeno cineasta em 2002

Com isso, minha produtora deve ter gasto, nos últimos 10 anos, uns R$ 500 mil com aquisição de novos equipamentos, tentando acompanhar o mercado e porque nós, os sócios, sempre fomos antenados em novas tecnologias. Só ganhamos mais cabelos brancos, aborrecimentos  e dívidas. Nos velhos tempos do Betacam, produção de vídeo era para quem tinha grana para investir pesado e muita capacidade técnica. Aí o dono da produtora viajava aos EUA e comprava 500 mil dólares em equipamentos. Mas ficava tranquilo, sabendo que não teria muita concorrência e que usaria o equipamento por uns 20 anos. Ou seja, tinha a garantia que conseguia retornar o capital investido.


Mas hoje eu já acho que quem não investiu tudo em equipamentos é que estava certo.  Na verdade,  o problema não é o equipamento em si. O problema é no que o mercado se transformou. Atualmente, o que tem de produtora meia-boca cobrando abaixo do custo real e factível, realizando trabalhos sem a menor qualidade técnica e, com isso, contribuindo para a má fama da produção de vídeo de baixo custo, não está brincadeira. Hoje todo garoto com um iPhone e um notebook vagabundo diz que é produtor de vídeos. E os verdadeiros profissionais foram obrigados a ir baixando os valores de produção até que chegamos a um nível insuportável. Se o que se ganha hoje, não dá nem para pagar os custos de uma produção decente, que dirá pensar em fazer uma reserva para modernizar e profissionalizar mais os equipamentos.

Eu diria, após décadas de experiência, que é melhor não ter equipamento algum e alugar, quando necessário,  o que for preciso, de acordo com o trabalho a ser realizado. Talvez, é logico, manter um mínimo necessário na prateleira. E tentar, na medida do possível, investir em componentes que possam ter uma sobrevida maior. Nesse aspecto, boas lentes, iluminação (moderada) e bons microfones são exemplos de equipamentos que não ficam rapidamente obsoletos e nem perdem valor com o tempo.

Talvez seja a hora, aqui no Brasil, de repensarmos a estrutura do mercado de produção de vídeos. Adotar o modelo comum em diversos países, onde o mercado se divide por especialidades. Empresas de produção, associações de profissionais independentes por especialidade, empresas de locação de equipamentos para aquisição, iluminação e outras especializadas em movimento. Nesse cenário a produtora de vídeo seria a empresa que, locando recursos materiais e humanos, realizaria efetivamente as produções. Talvez todos ganhassem mais com isso.

Mesmo nos pequenos centros urbanos, onde muitas vezes meia dúzia de pequenas produtoras lutam entre si, degradando os preços, esse esquema poderia levar a uma melhoria das condições de todas elas. Cada uma se especializando em fornecer às outras os recursos necessários a uma produção de qualidade. Esse ano, em nossa produtora, resolvemos dar uma virada e desmobilizar capital parado em equipamentos. Estamos vendendo muita coisa e mudando o foco.

Em relação a câmeras de vídeo, nossa pergunta de US$ 1 milhão, eu diria que as escolhas dependem muito do perfil dos trabalhos que determinada produtora costuma receber. E nesse campo já há uma certa especialização. E tem que haver mesmo. Mas sem preconceitos. Mas devido a concorrência onde a demanda é sempre menor que a procura, o profissional especializado em eventos sociais, por exemplo, acaba entrando no mercado do produtor de comerciais ou de outros conteúdos. E acreditem, tomar o profissional de eventos como um cineasta de menor valor ou com menos capacidade técnica é um erro.

Esse pensamento está mais ligado a própria dinâmica do universo de vídeo produção no Brasil, que ainda conta com pouca oferta de equipamentos de qualidade, altas taxas de importação, ausência de uma indústria nacional e falta de profissionais qualificados, pela eterna deficiência da educação regular e profissional no país. Mas o mercado de eventos sociais tem suas especificidades, seus truques e exige tanto conhecimento quanto o mercado de cinema comercial, por exemplo. Volto a dizer que, atualmente todos procuram fazer de tudo, fazendo mal, por conta da competição acirrada e sem escrúpulos.


 Sony NEX-EA50UH: uma NX5 de ombro, mas com sensor grande e lentes intercambiáveis.

Se uma pequena produtora é constituída de um ou dois profissionais freelancers, que dedicam a totalidade de seu tempo prestando serviços a terceiros, principalmente na área de eventos ou em programas de jornalismo e variedades para televisão ou internet, as câmeras DSLR não são as mais indicadas. Para aproveitar todo o potencial dessas câmeras são necessários diversos acessórios e equipamentos auxiliares que acabam por custarem mais que a própria câmera, consomem muito tempo na montagem e regulagem e ainda sim não se prestarão a trabalhos como reportagens externas em ritmo de correria.

Para esse tipo de job, uma boa câmera de televisão, com recursos como lentes fixas ou intercambiáveis com foco, íris e zoom automáticos ou manuais, possibilidade de uso no ombro, entradas para microfones tipo XLR com regulagem independente de ganho, baterias de longa duração e gravação com codecs e mídias que tornem fácil e rápida a edição do material, são fundamentais. Dois bons exemplos em faixas de preço bem diferenciadas são, atualmente, as recém lançadas Sony NEX-EA50EH e a Sony PMW-200. Cada uma em uma faixa de preço distinta, sendo a PMW-200 mais cara e mais voltada a produção exclusivamente broadcast, com seu codec XDCAM HD.



Sony PMW200: Codec XDCAM para um fluxo de trabalho rápido no padrão das emissoras comerciais.

Agora se uma produtora trabalha mais captando e produzindo comerciais e documentários para televisão e internet e outros eventos, inclusive curtas-metragens ou cinema de baixo custo,  em que haja tempo de sobra para marcar luz, tomar medidas e posicionamento de câmera, estudar takes e ângulos, escolher lentes e trabalhar mais em estúdio ou set de externa controlado, as DSLR são perfeitas, desde que equipadas com os acessórios corretos. Um bom exemplo é a nova Canon 5DMKIII, mas ressaltando que se o corpo dela está relativamente barato, na casa dos R$ 8 mil, os acessórios complementares, como um jogo mediano de lentes fixas, follow-focus, sistema de rod, matte-box e monitor de preview vão custar mais uns R$ 20 mil, no mínimo.


Canon 5DMKIII: um cavalo de batalha quando bem equipada. 

Se uma produtora, mesmo pequena, pretende se especializar em produção para cinema, já que o mercado brasileiro, aos poucos e a aos trancos e barrancos, vai progredindo, o investimento é bem mais alto. E lembrando, como falei anteriormente, que nesse caso, lentes especiais, iluminação, captação de áudio e outras facilidades deverão ser sempre locadas de acordo com a produção, já que são muito caras e de uso específico. Nesse caso, as novas Sony F5 ou F55ou mesmo uma REDONE usada  são as câmeras indicadas. Mas prepare-se para coçar o bolso em uns R$ 80 mil só com a câmera e umas duas lentes.


 Sony PMWF5: uma opção para cinema 2K e uma concorrente à altura da REDONE.

Resumindo tudo, não existe A câmera de vídeo melhor ou pior, existem as câmeras adequadas. Não tente abraçar o mundo com as pernas, procure seu nicho de marcado. Não tente ter todos os equipamentos que você precisa, alugue quando necessário e principalmente: valorize seu trabalho e sua nobre profissão cobrando sempre o valor justo e adequado. Assim você contribui para seu próprio crescimento profissional e para a maturação do mercado.

Grande abraço a todos!

Marcelo Ruiz

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