Breve
histórico dos formatos de cinema e TV
Com a introdução da tecnologia HD em câmeras de
custo mais acessível a partir dos anos 2000 e a popularização do formato, culminando
com a implantação da TV digital HD, em seu formato widescreen, inclusive no Brasil, a predominância das telas largas,
sobre os antigos monitores CRT em formato 4:3, trouxe também uma mudança nos padrões
estéticos de captação e produção de conteúdo para TV e cinema.
Mas afinal de contas existe um padrão para a chamada
imagem em tela larga? E esse padrão seria um frame de imagem com a proporção de
16:9, tradicionalmente ligada as câmeras HD em 1920 x 1080 pixel? Ou o Padrão seria
o formato 2.35:1 tradicional dos filmes em película como o Cinemascope? E agora,
com o lançamento e popularização das câmeras 2K como a RedOne, Sony F700, F5, F55
ou as novas BlackMagic Cinema Camera e
Production Camera, com seu formato
de 2430 x 1360 pixel aproximando-se do convencional 16:9 para o chamado cinema
digital?
Para colocar mais lenha nessa fogueira, muitos cineastas,
com baixos orçamentos ou vontade de experimentar, têm ressuscitado as velhas
lentes anamórficas como forma de expressão de suas ideias cinematográficas. E
as lentes anamórficas chegam a ter uma relação de aspecto de 3.5:1, ou seja,
quase o dobro da largura do formato 16:9 (onde teríamos em teoria um formato
31:9).
O
formato Cinemascope e as lentes anamórficas
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Lentes anamórficas de qualidade podem custar mais de R$ 100 mil reais cada! |
Até meados da década de 1950 o formato 4:3 ou 1.375:1
(Academy Ratio) foi usado na maioria
das produções cinematográficas. O meio de captação era o negativo de 35mm. Mas
com o lançamento do formato Cinemascope (1953) com sua tela larga, na proporção
de 2,35:1, houve uma tendência a se adotar um padrão que fosse visualmente
análogo ao Cinemascope, porém sem os altos custos de produção deste
último. A partir de então a maioria dos
filmes em película 35mm foram captados no formato 1.85:1 que se tornou o novo Academy Ratio.
Para aumentar a largura do quadro captado pelas
câmeras tradicionais de película e a consequente exibição em telas de cinema
com o dobro da largura normal, mas sem aumentar os custos de produção,
envolvendo troca de equipamentos, uso de filmes especiais (como os de 70mm) e
de lentes dedicadas, o Cinemascope adotou o uso da mesma película 35mm. Com o uso de lentes anamórficas, que “comprimiam”
a imagem na largura, um campo visual maior podia ser captado na mesma largura
do negativo tradicional. Posteriormente,
na exibição, o uso das mesmas lentes anamórficas, nos projetores das salas de
cinema, descompactavam a imagem, criando uma janela de exibição com o formato
2.35:1 (bem mais largo que o formato Academy
Ratio 1.85:1tradicional). E são exatamente essas lentes que alguns diretores
de fotografia vem experimentando para uso com câmeras digitais.
Assim como os televisores, inventados na década de
1920 seguiram o padrão Academy Ratio
de 4:3 que perdurou nos monitores CRT até a popularização dos monitores LCD,
que no entanto ainda foram produzidos em larga escala no padrão 4:3, os
monitores de televisão no formato widescreen
acompanharam o formato 16:9 (ou 1.85:1) da maioria das produções
cinematográficas e os filme originalmente produzidos para a tela de cinema não
precisaram mais ser “cortados” nas laterais, para caber nos monitores 4:3 ou
serem exibidos com as duas faixas pretas em cima e em baixo da imagem, quando
apresentados em seu formato original. Exceção feita aos filmes produzidos em
Cinemascope que, mesmo em monitores widescreen,
ainda necessitam das barras superior e inferior para serem apresentados na
relação de aspecto original.
O
formato de vídeo HD
Quando, em meados da década de 1990, começaram a
surgir as primeiras iniciativas para a criação de uma televisão digital em alta
definição que pudesse substituir o antigo padrão de televisão analógico em
baixa definição, em uma escala global, o natural foi pensar na experiência do
telespectador quando este ia ao cinema. A ideia era que a nova tecnologia
pudesse dar a experiência da sala do cinema, no conforto da sala de nossas
casas, tanto em imagem quanto em som. E que o custo de adaptação dos filmes
para o formato de vídeo doméstico fosse reduzido. Então o formato widescreen se tornou o padrão.
Mas tanto os canais de televisão aberta, quanto os
canais a cabo, não exibiam apenas filmes. Havia também os programas de
auditório, noticiários e documentários. E estes precisavam ser captados e
produzidos também em alta definição. Dessa forma todas as novas câmeras, dos
modelos mais caros para as grandes redes de televisão, aos modelos mais
baratos, para produtores independentes, adotaram o formato widescreen 16:9, geralmente com resolução de 1920 x 1080 pixel,
como padrão.
A
revolução digital da TV para o cinema
A partir dos anos de 1990, com a melhoria da
qualidade dos primeiros formatos digitais de câmeras de vídeo, alguns
cineastas, buscando novas formas de expressão estética, começaram a produzir
para cinema, usando câmeras de vídeo para televisão. Essas experiências precursoras
explodiram, a partir de 2005, com o lançamento da primeira câmera de vídeo, de
altíssima definição, voltada especificamente para a produção de cinema: a
REDONE.
Embora outros fabricantes como a Sony, com a linha CineAlta,
e a Arry, tradicional fabricante de câmeras de película para o cinema,
estivessem trilhando o mesmo caminho, o preço relativamente baixo e a
simplicidade das câmeras RED tomaram o mercado, tradicionalmente ocupado por
produções de cinema em película, de tal forma, que hoje quase a totalidade das
novas produções estão sendo rodadas em formato digital 2K e, em algumas poucas
iniciativas, em formato 4K.
Diferentes
equipamentos, diferentes lentes e vários tamanhos de quadro...
Mas afinal de contas existe um padrão para os atuais
filmes produzidos com equipamentos digitais para apresentação em salas de
cinema? E como ficam as diversas resoluções das câmeras de alta definição? Para citarmos alguns modelos mais conhecidos,
podemos montar a seguinte tabela de formatos 2K:
Fabricante
|
Modelo
|
Tamanho do
Quadro (pixel) (L) x (A)
|
Blackmagic
Design
|
BM
Cinema Camera
|
2432 x 1366
|
Blackmagic
Design
|
BM
Production Camera
|
3840 x 2160 (*)
|
Sony
|
F5,
F55 (c/ AXS-R5 RAW)
|
2048 x 1080
|
Sony
|
FS700
(c/ gravador AXS-R5 RAW)
|
2048 x 1080
|
RED
|
Red
One
|
2040 x 1024
|
ALEXA
|
Arry
|
2880 x 1620
|
EOS
C500
|
Canon
|
2048 x 1080
|
(*) Não oferece 2K nativo, somente 4K
Como pode ser visto na tabela acima, cada
fabricante/modelo conta com um tamanho de quadro próprio, não existindo entre
os fabricantes de equipamentos uma padronização exata para definir o formato 2K
(o mesmo acontecendo com o formato 4K). Mas o consórcio mundial de exibidores -
DCI ou Digital Cinema Initiative –
acabou padronizando, a partir de 2005 os formatos para exibição, para salas de
cinema digital, na proporção de 1.89:1 que seguiu, com pouquíssima diferença, o padrão Academy
Ratio original para filmes em película
que era de 1.85:1. E os fabricantes de projetores, como a Barco e a Sony, também
seguiram essas especificações. Então, quanto ao formato de exibição, temos:
Formato
|
Tamanho de Quadro
|
2K
|
2048x1080 (1.85:1)
|
4K
|
4096x2160 (1.85:1)
|
2K (Scope)
|
2048×858 (2.39:1)
|
4K (Scope)
|
4096×1716 (2.39:1)
|
A diferença no formatos normais 2K ou 4K para os
formatos em Scope serve para acomodar
a exibição de produções captadas originalmente em película, usando os formatos
Panavision, Cinemascope ou mesmo negativos 70 mm, bem como produções captadas
em câmeras digitais porém usando lentes anamórficas ( 2X, 3,5X, etc).
Abaixo temos alguns exemplos de formatos de captura
e exibição citados nesse texto. Para efeito de comparação foram respeitadas as
escalas de tamanho e proporção:
Fotograma 70 mm original do filme “Baraka” (Ron Fricke
– 1992 – EUA)
Captado com câmera 70mm Todd-AO – lentes Super Wide
12,5 mm
Exemplo da mesma cena captada com câmera tradicional
de película 35 mm no formato Academy
Ratio 1.85:1 com lentes normais:
Caso fosse captada com lentes anamórficas 2X
(2.35:1) em película 35mm:
Frame de vídeo HD 1920 x 1080 captado com Canon
5DMKII e lentes 135mm:
Frame de vídeo HD 1920 x 1080 captado com Canon
5DMKII, lentes 135mm mais lente anamórfica Sankor 16C (3,5X) sem correção de
aspecto:
Mesmo frame após correção de aspecto no Premiere CS6
para o formato HD 1920 x 1080:
Exemplo de frame capturado com uma Blackmagic Cinema Camera @ 2K e o
formato final de exibição padronizado pela DCI para Cinema Digital 2K. Fica a
critério do diretor cortar a imagem excedente, com novo enquadramento, ou executar
o downscaling para o tamanho padronizado,
aproveitando todo o quadro capturado.
Esse artigo é um breve resumo de alguns aspectos dos formatos de vídeo e cinema convencional e digital. Para se aprofundar mais no assunto sugerimos leituras específicas disponíveis na web, sobre cada um dos temas abordados.
Grande abraço a todos!
Marcelo Ruiz
Obrigado por compartilhar o conteúdo. Irei favoritar o site. Sensacional!
ResponderExcluirMuito bom, obrigado!
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