Exemplo de equipamento auxiliar para produção audiovisual que não existem fabricados no Brasil. |
Querem saber? Acho que nunca poderemos deixar de depender da exploração, por empresas estrangeiras, para comprarmos os equipamentos que precisamos para desenvolver nossas atividades profissionais aqui no Brasil. Passarão os anos e continuaremos a ter que viajar para o Paraguay ou para o exterior para comprar produtos, que na maioria não terão garantia ou assistência técnica no país. E continuaremos pagando bem caro, por conta da diferença de valor de nossa moeda frente ao dólar. Fora os impostos ou frete se quisermos fazer tudo legalmente.
E querem saber por quê? Não existe apoio no Brasil, para quem deseja criar produtos nacionais. As verbas de pesquisa estão desaparecendo nas universidades, máquinas e equipamentos necessários para projetos, testes e produção também são importadas e protótipos tem que ser mandados para fora do país para serem construídos. Todas as facilidades que existem em outros países para os empresários, inventores e pesquisadores, como empresas que fabricam pequenas quantidades de placas de circuito impresso já montadas com micro componentes simplesmente não existem aqui. Não se consegue comprar com facilidade processadores especiais, circuitos integrados e outros componentes. Tudo tem que ser importado e pagando impostos como se fossem bens de consumo. A minha experiência pessoal com o assunto é antiga e está descrita abaixo, para quem se interessar em conhecer as dificuldades reais que passa o criador/inventor no Brasil.
Por diversas vezes tentei, na minha área de produção
audiovisual, onde absolutamente tudo tem que ser importado e é caríssimo,
desenvolver similares nacionais de baixo custo. Como pesquiso muito sobre as
tecnologias e equipamentos dessa área e há sempre a constatação que para a
maioria dos micro e pequenos empresários é impossível comprar equipamentos de
ponta ou mesmo outros mais acessíveis, sempre me interessei em desenvolver
alguns desses produtos. Em 2007 precisando comprar dois teleprompters (equipamento
usado pelos jornalistas lerem os textos das noticias sem precisarem olhar para
um papel, pois o texto passa na frente da lente da câmera, em que essa capte
essas imagens e nos dando a impressão que o apresentador olha sempre direto
para nós). Nessa época eram todos importados e nos custariam pelo menos US$ 6
mil dólares. Não havia um produto nacional.
Eu e outro sócio, que tinha uma pequena metalúrgica
desativada projetamos e desenvolvemos um modelo de baixo custo e com todas as
funcionalidades. Foi quase um ano de pesquisa, tentativas e erros. Finalmente
conseguimos iniciar a produção. Ao todo em 2 anos de muitas dificuldades com
compra de matérias primas, vendemos 67 unidades. Aí começaram a aparecer as
cópias dos nossos produtos. Em dois casos, verificamos que dois empresários
compraram nossos modelos para copiar. E como se não bastasse esse tipo de
concorrência desleal, o Brasil abriu o mercado para produtos similares vindos
da China e da Índia. Os preços que eles praticavam eram impossíveis de serem
acompanhados. Resultado: encerramos a produção.
Depois disso descobri outros
equipamentos que estavam sendo criados no exterior e tentei novamente produzir
similares nacionais. Novamente o mesmo tipo de problema: dificuldade de importar
matérias primas. Inexistência de fornecedores nacionais mesmo para itens
simples como parafusos de um tipo especial. Dificuldade de comprar maquinário e
encontrar parceiros para desenvolver e ampliar o negócio. Na parte da venda da
produção, já havíamos descoberto, quando fabricávamos os teleprompters, que os revendedores oficiais, representantes
das marcas estrangeiras, não queriam se comprometer em vender nosso produto
nacionalizado para não melindrar os parceiros de peso estrangeiros. Ou então
usando o argumento que nosso produto era desconhecido e nacional, queriam altas
margens de comissão pelas vendas. Enfim, novamente desistimos de tentar produzir aqueles novos produtos.
Alguns anos se passaram mas como não consigo deixar de gostar de pesquisar e inventar coisas, quase como uma terapia ou passatempo, sempre contando com pouquíssimos recursos, desenvolvi
uma linha de produtos auxiliares para serem usados com câmeras fotográficas e
filmadoras. Nada do que eu desenvolvi, é inédito, mas pensando em design
thinking, procurei melhorar o que já existia e acrescentar coisas que os outros
desenvolvedores não pensaram. São diversos equipamentos, que chegaram a passar
da fase de protótipos a produtos finais que poderiam entrar em produção e estão até anunciados aqui no blog, para produção sob encomenda.
Mas parei nesse ponto, pois daqui por diante precisaria de
capital e outros colaboradores associados para cuidarem de processos diversos,
pois eu sou bom em criar, projetar e executar, mas não sou bom em marketing,
vendas e administração de custos e sei que pra ter sucesso não posso cuidar de
tudo sozinho. Mando em anexo uma foto comparativa de um dos produtos que criei
e um modelo existente e as diferenças em termos de preço e estratégia. Agora
imagina os milhares ou milhões de dólares que são necessários para desenvolver
produtos. Exige logicamente criatividade. Mas criatividade também é desenvolver
novos produtos com poucos recursos financeiros e materiais e sem apoio.
Qual o potencial disso para um país que precisa exportar
mais, precisa criar empregos e aumentar sua participação na exportação de
produtos com valor tecnológico agregado ao invés de ficar vivendo apenas de
exportação de matéria prima. Se eu fiz, muitos outros inventores e
empreendedores podem fazer também. Só falta apoio e mais informação.
Grande abraço!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por sua participação! Asim que eu puder, vou responder! Volte sempre!
Marcelo Ruiz
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.