19/07/2023

A Garota com Brincos Luminosos? Polêmicas com a Inteligência Artificial.

 

Imagem gerada por IA gera polêmica ao ser exibida no Museu Mauritshuis de Haia, na Holanda.

O Museu Mauritshuis lançou sua chamada aberta My Girl With a Pearl, no mês de janeiro desse ano, solicitando substitutos temporários da pintura A Garota com Brincos de Pérola feitos em qualquer meio. Quase 3.500 retratos foram enviados, muitos bastante liberais em sua compreensão da proposta do museu.

Mas foi a peça, chamada A Girl With Glowing Earrings (A Garota com Brincos Luminosos), apresentada pelo artista de I.A. alemão, Julian van Dieken, que causou mais polêmica. Criada com a I.A. programa Midjourney, pois o retrato “abre mão da luz suave e da paleta suave do original para uma aparência nítida e sintética que transforma a figura icônica de Vermeer em uma versão falsificada de si mesma”, conforme escreveu Taylor Dafoe, no site Art Net News.

Cerca de 170 obras foram escolhidas pelo museu para serem exibidas na sala onde tradicionalmente fica exposta a pintura original.

O motivo foi não deixar a sala vazia enquanto a obra original de 1660 vai sair em exposição itinerante pela Holanda, pela primeira vez.

O assunto de Vermeer foi reimaginado como um cachorro, um dinossauro e um elefante; ela foi retratada como uma cebola e uma espiga de milho. Alguns a fizeram com botões ou miçangas; outros se voltaram para bonecos e fotografias. Mas o que sobressai em todas é o poder da criatividade de fotógrafos e artistas visuais, que produziram releituras absolutamente fantásticas e instigantes baseadas na obra do pintor Johannes Vermeer.

Nessas horas não posso deixar de lembrar as palavras de um professor durante meu tempo na Faculdade de Belas Artes. Perguntado por um aluno o que caracterizaria uma criação como obra de arte, ele respondeu: “ Arte é tudo aquilo que se torna vivo, que se levanta por suas próprias pernas e inicia uma existência atemporal independentemente da presença ou do desejo de quem a criou, se tornando liberta de todo julgamento”.

As outras 169 obras escolhidas pela curadoria do museu para integrar a exposição, compreendendo diversas mídias e categorias de obra de arte não despertaram tanta polêmica. Interessante notar que mesmo parecendo uma foto real, com uma definição absurda, a imagem e o fato de ser sido criada por um artista visual, porém usando Inteligência Artificial, não passou despercebida do público.

Sala de exibição permanente da pintura "A Garota com Brincos de Pérola" no Museu Mauritshuis 

Alguns achando válido e interessante o conceito, mas outros reclamando e inclusive alegando falta de respeito do museu com o renomado artista holandês e à própria importância histórica da obra. E daqui por diante veremos cada vez mais esse tipo de polêmica. Seja em trabalhos enviados para concursos fotográficos ou mostras de arte contemporânea, seja no uso de imagens geraras por I.A. para servir de conteúdo para peças publicitárias e mesmo matérias jornalísticas.

Em outros meios de criação como a produção escrita acadêmica e o uso comercial em setores como direito e publicações científicas, a polêmica vai sendo levantada. E um caminho logo ainda terá que ser percorrido para, no futuro, ser estabelecido algum tipo de legislação ou código de autorregulamentação sobre o uso desse tipo de conteúdo. Nesse meio termo, advogados tem sido processados por uso de argumentações falsas geradas por I.A., estudantes são reprovados em matérias e mesmo em defesas de dissertações, fotógrafos tem perdido premiações quando a farsa é descoberta.

Interpretação da obra original de J. Vermeer recriada pela IA Midjourney pelo artista Julian van Dieken

Não sou absolutamente contra o uso da inteligência artificial. Penso que pode ser mais uma ferramenta tecnológica – desde que seja usada com ética e cautela – que possa liberar pessoas de trabalhos e processos desnecessários. Mas tenho receio de seu uso indiscriminado e principalmente do seu potencial para se tornar ferramenta poderosa de controle de opinião e comportamento.

Mas não tenho o menor pudor de dizer que desprezo qualquer trabalho artístico seja fotografia ou filme produzido inteiramente por computação. E acho desinteressante e sem graça filmes que se utilizaram extensivamente de computação gráfica. Além de fotos exageradamente retocadas e editadas com uso de programas de imagens. Como fotógrafo procuro me atualizar dos meios digitais à disposição para auxiliar no equilíbrio de minhas fotos ou vídeos, mas sempre uso com moderação. Paro no ponto onde vejo que meu trabalho original está perdendo minha assinatura.

Outro dia escutei de alguém que não me recordo o nome uma frase interessante e que me representa também:

“ Não tenho medo do crescimento do poder da inteligência Artificial, mas temo pela diminuição da inteligência racional e emocional do ser humano”.

Grande abraço!

Serviço:

As obras escolhidas pela curadoria do museu Mauritshuis podem ser vistas no Instagram no endereço https://www.instagram.com/mygirlwithapearl/ e a exposição sobre a famosa pintura, Who's that Girl?, ficará aberta de de 8 de junho até janeiro de 2024. O link para a página esta em https://www.mauritshuis.nl/en/what-s-on/exhibitions/who-is-that-girl-with-a-pearl-earring/.


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Marcelo Ruiz

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