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Créditos da imagem: Nikhil Gangavane / Alamy Stock Photo |
Nos últimos três artigos eu
falei dos mitos existentes sobre o fator de corte (Crop Factor) e os
sensores pequenos como o APS-C e o Micro 4/3 que você pode ler clicando aqui,
aqui
e aqui.
Então vamos finalizar (por enquanto) esse assunto, tratando
da maneira certa, de como fazer corretamente a conversão de parâmetros das
lentes Full Frame, quando usadas em sensores menores. No final desse post, vou
falar também por que não gosto de usar os adaptadores com lentes integradas
(speed boosters) para adaptar as lentes formato 35mm nas câmeras Micro 4/3 que
se trata de outra polêmica entre fotógrafos e tem suas vantagens e
desvantagens.
No último post (que pode ser lido aqui)
eu expliquei o que acontece com o enquadramento (FOV ou Campo de visão) de uma
lente Full frame quando montada em uma câmera com sensor menor. Usei o exemplo
de uma lente 85mm montada em uma câmera Panasonic GH4. Onde o que parece ser
uma aproximação maior (mais zoom) na verdade, trata-se apenas do enquadramento
de uma parte menor da imagem gerada pela lente, que ocupa todo o sensor de uma
câmera Micro 4/3. Usei o exemplo mostrado abaixo:
Voltando ao nosso fotografo imaginário, que estava fotografando uma linda modelo (minha filhota hein marmanjos! Cuidado! Kkkkkk): ela (a cliente) não gostou do enquadramento total na foto tirada com
a mesma 85mm montada em uma Canon 5DMKII. O fotógrafo, que não podia brigar com a modelo exigente porque além de cliente ter sempre razão, ela é minha filhota, repetiu a foto tirada na
mesma distância com a mesma lente. POREM montada em um corpo de uma Panasonic
Micro 4/3 (sensor menor). No novo enquadramento causado pelo Fator de Corte, a
cliente ficou satisfeita.
Mas digamos que nessa nova sessão de fotos a cliente, para poder comparar, pede ao fotógrafo pra ver a foto com o enquadramento original ( maior
campo de visão) e o pobre coitado, não levou uma câmera Full Frame. O que
ele terá que fazer para obter esse campo visual maior com a mesma lente 85mm e
a câmera Micro 4/3? Se você respondeu que ele terá que se afastar mais da
modelo acertou! Porque, como vimos antes, a lente 85mm, quando montada na
câmera Micro 4/3 “se torna” (termo e ideia incorretas, como já vimos) em uma
lente 170mm (lembrando que o fator de corte para Micro 4/3 é 2X). Ou usando o
termo correto, o campo de visão é menor (FOV).
Nesse caso para aumentar o campo FOV (considerando que a 85mm é
fixa) só lhe restará se afastar mais da modelo.
Aí sim, obterá o mesmo enquadramento dessa lente se fosse usada em
uma Full Frame. Ao se afastar, ele simula a 170mm. Entendido até
aqui? Continuemos o raciocínio. Se você, que está lendo esse post, é um fotografo
com prática, sabe que as lentes, quanto mais longas, tendem a ter uma
profundidade de campo (DOF ou Deep of Field) menor e menos coisas estarão em
foco, na frete e atrás do objeto principal. Ao contrário, uma lente grande
angular tende a ter uma profundidade de campo maior, com todos os planos em foco
aceitável.
Mas a nossa exigente cliente quer que o fundo da imagem
continue desfocado, como na foto mais em close e com o mesmo bokeh (aquelas
lindas esferas difusas em que os objetos ao fundo e fora de foco se tornam). Nesse caso, o que
o fotografo precisa fazer? Os mais experientes me dirão: abrir mais a íris para
diminuir a profundidade de campo e borrar o fundo. Corretíssimo. Mas quanto
deve ser essa abertura? Bom... nesse caso se vc não souber o truque, vai olhar
no visor e ao mesmo tempo vai abrindo a íris até obter o desfoque desejado. OK.
Mas para ficar perfeitamente igual? Digamos que vc não
lembre quanto desfoque de fundo havia quando usou o corpo da Full Frame e não
tem uma cópia da foto em mãos. Como fazer? Simples: se o fator de corte da
câmera Micro 4/3 é 2x (e por isso a lente 85 “vira” uma 170mm) ou 2x85=170,
nesse caso multiplicamos por 2x a abertura da íris! Digamos que na foto tirada
com a 85mm montada na Canon Full Frame 5DMKII usamos f/4 como abertura. Então com a mesma 85mm montada na Micro 4/3
vamos usar f/2 (2x2=4). Agora ao
abrirmos mais a íris de f/4 para f/2, nós diminuímos a profundidade de
campo! Nem precisa olhar a foto original. Com certeza o desfoque de campo e o bokeh serão praticamente iguais. Duvida disso?
Lembre-se que o desfoque e a profundidade de campo são característicos da lente
e não do sensor. Se vc usou a mesma lente corrigindo a abertura da íris no
mesmo valor do crop factor, terá o mesmo resultado.
E o que vai acontecer com a luminosidade da imagem quando
você abrir mais a íris? Isso! A imagem vai ficar estourada nos
brancos, sem contraste e com cores mais pálidas. Então o que fazer? Nesse caso,
como há muita luz você simplesmente regula a velocidade do obturador para um
valor maior ou diminui a sensibilidade do sensor diminuindo o ISO. E a regra, sem olhar no fotômetro de mão ou no
da câmera é simples:
Nesse caso use o fator de corte (2x) elevado ao quadrado.
Então fica 2 (fator de corte) elevado ao quadrado que é igual a 4! Se o ISO na Full
Frame era 800 por exemplo, diminuído (dividindo) por quatro você ajustará o ISO para 200 na câmera Micro 4/3!
Mas se houver pouca luz? Nesse caso, aumentar a
velocidade para melhorar o contraste, diminuirá o estouro do branco, mas vai
ter ruído nos pretos ou baixas luzes. Diminuir a velocidade, para ter mais luz nas áreas escuras, pode acarretar uma imagem tremida (blur)
se a modelo se mover. E agora?
Simples: mantenha a mesma velocidade e aumente
ISO!
Já ouço os mais experientes gritando: se aumentar o ISO aumenta o ruído! Certo!
Mas lembrem-se: as câmeras Micro 4/3 atuais, com sensores aperfeiçoados, conseguem chegar a ISO’s mais altos sem o aparecimento de (muito) ruído. Nesse caso use
a mesma regra anterior (fator de corte 2 elevado ao quadrado que será igual a quatro) mas aumentando o ISO.
Se na Full Frame um ISO 800 era adequado para a luz existente,
multiplicando por 4 esse valor, teremos (800 x 4) precisaremos de 3200 de ISO. É meio alto mas câmeras como a Panasonic Lumix GH5, GH5 e outras, oferecem uma imagem
bem aceitável em 3200 ISO!
Se estivéssemos falando de câmeras Micro 4/3 mais antigas
como a Lumix GH1 ou GH2, com certeza um ISO 3200 mostraria ruídos não tão
aceitáveis! Então aqui mais um mito cai por terra:
Câmeras com sensores
cropados (APS-C ou Micro 4/3) não tem menor sensibilidade que as Full Frame SÓ
POR CONTA DO SENSOR MENOR. A qualidade e a tecnologia do sensor é que influirão
nisso!
Porém é justo e lógico ressaltar que as Full Frame operam
melhor com ISO mais altos sem ruídos que inutilizem a foto. Simplesmente
porque a área do sensor é maior e os fotosites (cada pixel captador de luz)
serão maiores também (considerando o mesmo número deles (MP) nos dois sensores comparados).
Uma câmera Full Frame de 24MP terá mais
capacidade de produzir imagens aceitáveis, quanto a ruídos, quando utilizada em ISO muito alto, do que uma câmera Micro
4/3 com os mesmos 24MP na mesma faixa de ISO alto.
Voltando ao primeiro artigo dessa
série: Usando como exemplo um ISO3200, o sensor de 16MP de um celular mostra mais ruídos inaceitáveis que uma câmera Micro 4/3 regulada nos mesmos 3200ISO. A Micro 4/3 mostrará mais ruídos inaceitáveis, nesses mesmos 3200ISO, que uma Full Frame com o mesmo valor. E assim por diante. Daí
os fabricantes poderem anunciar câmeras Full Frame com 22 MP e até 52000
ISO e outros só oferecerem câmeras com o máximo de 25000 ISO em
sensores com os mesmos 22MP em formato Micro 4/3.
RESUMINDO AS FÓRMULAS
(PARA SENSORES MICRO 4/3 O FATOR DE CORTE é 2X)
Campo de visão (FOV)
Multiplicar a distancia da lente Full Frame x2
Exemplo: Lente 55mm x 2 = Lente 110mm Micro 4/3
Profundidade de campo (DOF)
Multiplicar a abertura da íris em Full Frame pelo fator de corte
Exemplo: f/4 x 2 = f/2
(pra não confundir: lembrar que aumentar o f/stop 4 , usado acima como exemplo, duas vezes significa ir de f/4 para f/2.8 para f/2 ou o valor mais próximo disso)
Sensibilidade do Sensor (ISO)
Aplicar o fator de corte ao quadrado
Exemplo: fator de corte 2 é igual a 2 elevado a 2 = 4
Para menos sensibilidade: ISO 800 x 4 = ISO 200
Para mais sensibilidade: ISO 800 x 4 = ISO 3200
Exemplo final:
(*para a mesma distância ente a câmera e o objeto)
Uma lente 55mm FF instalada em um corpo de câmera 4/3, se comportará como:
Se fosse uma 110mm, em termos de campo de visão ou enquadramento (FOV);
A profundidade de campo (DOF), com a abertura da íris corrigida, será a mesma nas fotos tiradas com os dois conjuntos lente/câmera;
A quantidade de luz captada e o ruído nas áreas escuras (supondo a mesma quantidade de luz incidente disponível), será a mesma nas duas câmeras.
Seed Boosters
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Crédito da imagem: https://suggestionofmotion.com/blog/metabones-canon-ef-speed-booster-review-7-days/ |
Uma palavra final sobre os adaptadores de lentes Full Frame,
para sensores cropados (como o Micro 4/3), também conhecidos como Speed
Boosters: ao contrário dos adaptadores comuns, esses possuem uma lente colimadora que diminui
o círculo de imagem muito grande de uma lente para sensor 35mm fazendo-o caber
inteiro no sensor menor (como o APS-C ou o Micro4/3). Há o mito de que estes
fazem a lente “ganhar” 1 f/stop a
mais de luminosidade. O que não é verdadeiro. Nenhuma lente é capaz de aumentar
a intensidade da luz que passa nela. Vai contra as leis da física ótica. Uma
lente pode sim colimar (concentrar) o feixe luminoso que a atravessa em uma
área menor de um plano focal qualquer.
Como a incidência de luz é medida pela quantidade x área (Lux,
candeias, etc), uma área menor com a mesma quantidade de luz incidindo sobre
ela, em relação a uma maior, se torna mais clara e brilhante. Mas o que
aumentou não foi a luz e sim a concentração em um pequeno espaço. Por isso,
mais uma vez por comparação (como é definido o fator de corte), dizem que a
lente fica mais clara como se ganhasse mais um f/stop, mas na verdade é a imagem ficou mais exposta pela
concentração do feixe focal da lente.
A outra vantagem de alguns modelos de Speed Boosters é
interligarem eletronicamente uma lente com foco e abertura automáticas de um
determinado fabricante com o corpo de outro, interligando os contatos da lente
aos do corpo da câmera, que tem posição e quantidades diferente. Dessa forma o
corpo da câmera pode controlar uma lente não originalmente fabricada para ele. E também fazer funcionar a estabilização eletrônica da mesma (AE).
Mas então se tem vantagens, porquê você não gosta tanto
deles assim Marcelo? Simples: exatamente por concentrarem a imagem fazendo-a
caber inteira no sensor menor. Isso anula o fator de corte e as vantagens do
zoom virtual e do campo de visão (FOV) mais fechado. Se é para transformar as
características de uma lente Full Frame tornando seu enquadramento semelhante a
uma lente cropada de mesma distancia focal, é melhor usar a lente original,
desde que ela seja clara e rápida e tenha boa qualidade ótica. Mas se justifica
se o fotógrafo possuir muitas lentes excelentes Full Frame e queira (e deve)
aproveita-las em outra câmera.
Outro ponto negativo é que alguns modelos de Speed Boosters,
possuem lentes internas de qualidade inferior ao vidro das lentes a serem
adaptadas nele. A qualidade de uma lente cara vai ser perdida, mesmo que em
pequena quantidade. Os modelos ativos com circuitos e chip interno também v!ao
consumir mais energia da bateria da câmera, além da lente e ou vão necessitar
de fonte externa separada. Outra desvantagem é ser mais um equipamento
eletrônico para dar defeito na hora errada.
Se o fotografo possui muitas lentes clássicas e totalmente
manuais e sem circuitos eletrônicos, É melhor dependendo do gosto estético e
necessidade de determinado trabalho, usar um adaptador comum, sem lente e sem
circuitos. Como já havia citado em outro post, uma lente APS-C ou Micro 4/3 de,
digamos 50mm de distância focal tem o mesmo campo de visão FOV) de uma lente
50mm para formatos Full Frame, sendo porem menor e mais leve. Mas não
necessariamente mais baratas. O formato Micro 4/3 está se desenvolvendo muito,
se aperfeiçoando e a cada dia surgem lentes melhores.
E para finalizar, esse negócio de ficar dizendo que Full
Frame é melhor que cropado parece história de meninos comparando seus pintos!
Vale lembrar que o que se “convencionou” chamar de Full Frame está longe de ser
full frame. Se comparado com os sensores maiores, como os das câmeras digitais de grande formato, ou os formatos de filme 10 x 8 (25 x 20 cm), o sensor
“full frame” (que reverenciamos tanto como sendo o supra sumo da qualidade), com seus ridículos 3,6 cm largura por 2,4 cm de altura, fica parecendo
minúsculo!
O importante não é o "tamanho"do equipamento e sim o fotografo por trás
dele!
Grande abraço!
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Marcelo Ruiz
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