A DF Vasconcelos foi pioneira na criação de uma indústria ótica e fotográfia genuinamente nacional. |
Em um dos grupos sobre fotografia que participo, um dos integrantes falou dos preços irreais decorrentes do retorno do interesse pela fotografia química (ou analógica). Outro integrante comentou que depois da pandemia a situação piorou. E deve ser isso mesmo. As pessoas ficaram – e ainda estão – muito tempo em casa, algumas com mais tempo livre e querendo se ocupar. Então descobriram ou voltaram para o tempo analógico. E tudo que é colecionável, ou vintage, subiu de preço. Já viram o preço dos vinis e toca-discos? E o mercado desses itens usados ficou saturado.
Muitos vendedores nos grupos de
redes sociais e nos sites de compra e venda comercializando itens sem noção do
valor e do estado do equipamento. No caso da fotografia, se a lente ou câmera
está boa pedem muito acima. Se tiver algum defeito, continuam pedindo alto,
alegando que o comprador pode restaurar aquele “item raro”. Vendem lentes, por
exemplo, que não valem o que é pedido, só por ser , por exemplo uma
cinquentinha bonita. sem saber o IQ daquela objetiva. E aí os desavisados
compram achando que vão fazer um bom negócio.
Uma 50mm f/1.4 alcança valores
irreais. Mesmo que, ao final das contas, não produza uma imagem aceitável. Mas
é uma 50/1.4... Alega o vendedor. Sem saber que na sua abertura máxima, essa determinada
lente vai produzir uma imagem pior que outra cinquenta milímetros f/2.8. Por
outro lado vejo lentes ótimas por preços muito baixos, seja por avarias ou por
conta da marca. Eu vivo fotografia desde a adolescência nos anos 1970. Gosto
particularmente de comprar lentes com defeito pra restaurar e vender. Mas
sempre pratico o preço médio ou justo de mercado. Na verdade, não ganho quase
nada. É mais pelo prazer de ver algumas delas voltando à vida. E para aprender
um pouco mais.
Mas esse mercado já foi bem pior
em certo aspecto, mas muito promissor em outro. Pena que a iniciativa de alguns
pioneiros nessa área e em outras, como a indústria automobilística, foi
sufocada pela falta de apoio do governo, burocracia, impostos e pressão das
multinacionais que sempre dominaram certos mercados. Nos anos 70 somente rico
tinha acesso a equipamentos profissionais. Eram os que podiam viajar e trazer
de fora. Aqui no Brasil, o mercado sempre foi difícil. Antes da abertura e do
famigerado Collor, era proibida a importação de bens de consumo. As poucas
lojas que vendiam equipamentos fotográficos tinham grande parte do estoque
fornecido por muambeiros ou itens nacionais, quase sempre atrasados
tecnologicamente.
Por outro lado havia uns
idealistas como o Décio Fernandes de Vasconcelos (DFV), que até hoje ainda
produz material ótico. Ele chegou a fabricar algumas lentes. Mas como outros
como o Amaral Gurgel (dos automóveis) acabaram não resistindo a pressão dos fabricantes
nacionalizados, dos importados e da enxurrada de produtos xinglings de preço
baixo e qualidade pior ainda. E o preço do que havia nas prateleiras das lojas
de equipamentos tradicionais – que também fecharam ou faliram - era sempre nas
alturas. A assistência técnica, pelo menos, era melhor.
Hoje os bons técnicos se
aposentaram ou faleceram. Muitos saíram do mercado por conta da falta de peças
e da dificuldade em manutenção das lentes eletrônicas. E esse é um caso à
parte. Vejo pessoas pagando mais de R$ 10 mil em uma lente atual, pela
conveniência do foco e abertura automáticos ou porque a lente está na moda. Ou porque
acham que esse produto, com todo seu apelo visual e de marketing, vai ser
melhor que uma lente de 40 anos atrás. Aí, quando parte um simples flatcable
choram. Se achar a peça e quem a troque será, no mínimo, sessenta dias com a
lente parada a espera da peça. E não entendo como lentes tão precariamente
construídas custam tão caro. Se der mofo entre elementos, outro pepino. A
maioria hoje é colada ao invés de ser montada com anéis roscados entre os
elementos. Pra desmontar, o risco de perder a lente é grande.
Mas de qualquer maneira é um
retorno salutar. A fotografia analógica é a base que fornece o conhecimento
estético e técnico para a fotografia digital. Não sou contra o digital, pelo
contrário. Hoje prefiro muito mais essa praticidade. Mas tudo que aprendi foi
estudando muito, perguntando e pensando antes de apertar o disparador, para não
desperdiçar uma das valiosas 36 poses do meu filme colorido, que era caro e
mais cara ainda a revelação e copia dos negativos. Mas essa história da emoção
de fotografar com película e esperar o resultado, abrindo ansiosamente o envelope,
ainda no balcão da loja de fotografia não tem preço e precisa ser contada com
mais tempo em outro post.
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Marcelo Ruiz
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