Um dos mais ativos seguidores aqui do blog,
o nosso colega Lucino Santana, proprietário de uma produtora no interior da
Bahia, enviou o primeiro comentário sobre o texto “Os novos desafios da
produção de vídeo no Brasil”.
Gostei tanto dos questionamentos e
considerações que resolvi publicar a resposta como um novo post. Para dar
coerência as respostas vou citar os trechos do comentário dele com fonte itálica. E desde já agradeço e
parabenizo a você, Lucino, por estar sempre antenado no blog e pelos
comentários sempre interessantes e pertinentes.
O Lucino começou levantando a preocupação
com a mudança:
“Achei um pouco incoerente com nossa realidade
atual o fato de você aconselhar aos colegas que se especializem em determinado
setor do seguimento, isso não condiz, pelo menos ainda não. E eles podem até
passar necessidades se tentarem.”
Sua percepção está corretíssima Lucino, mas
lembre-se de que eu falei que o processo de mudança deve ser bem estudado e “...
também deve levar em consideração outros fatores como potencial do mercado
local, expertise principal dos integrantes da equipe e a própria percepção dos
clientes...” pois quando se caminha para esse tipo de ajuste ou mudança de
rumo, não adianta jogar o barco nas pedras para fugir da tempestade.
O que eu tentei passar para os nossos
leitores é muito mais uma percepção, uma intuição baseada na interpretação
pessoal de certos sinais. Mas eu também posso errar feio, afinal não tenho bola
de cristal. Penso que é certo se evitar mudanças que coloquem em risco o que já construímos, mas também aprendi, com
muitos anos de tentativas de administrar negócios, em tempos que o Brasil
era muito mais imprevisível e instável, que o tempo virá rápido e a tempestade
aparece do nada.
Acho que o principal, no texto, é nos fazer
refletir o presente e tentar enxergar um pouco mais adiante, para estar
preparado. As mudanças acontecerão. Com
toda certeza. Se daqui a dois, três ou cinco anos, não podemos afirmar. Sei
apenas que elas acontecem cada vez mais rápido. Quando você falou:
“Você
mesmo é um "raro" exemplo disso. Pelo que já vi, você é extremamente
multifacetado, sensível as mínimas nuances em produção de vídeo. Crítico
ferrenho de obras mal feitas, e na sua produtora, com seus sócios você deve
fazer de tudo, certo? ou não?”
Acabou acertando em parte. Realmente eu até
faço troça comigo mesmo, me chamando de Professor Pardal. Mas isso na verdade é muito ruim. Você acaba
se interessando por muita coisa, tenta fazer muita coisa e acaba perdendo o
foco na hora mais necessária. A autocrítica é forte sim aqui na produtora. Se
nos leva a tentar fazer sempre o melhor, também nos impediu muitas vezes de
fazer o possível e até mesmo o medíocre que o cliente queria, por puro
idealismo. E isso não enche barriga. No
início tentamos mesmo abraçar o mundo com as pernas, foi uma loucura. Agora já
estamos bem mais seletivos e buscando esse nicho de mercado que eu comentei no
texto. Está sendo problemático? Está fazendo cair o faturamento que já estava
ruim? Sim. Absolutamente. Mas preferimos isso do que continuar na “vidinha
besta” como diz na gíria.
Mas apesar de no início termos tentado
abrir muitas frentes, algumas coisas nuca fizemos por ideologia. E nunca
faremos. Cito algumas. A primeira é fácil: cartelas. A segunda é campanha
política. Entenda bem, não estou criticando e nem condenando quem faça. Cada um
tem livre arbítrio e o meu me impede de entrar naquelas maracutaias de campanha
política. Outra coisa absoluta é a
corrupção. Entrar em esquema para ganhar licitação (algo quase de praxe aqui na
capital), oferecer vantagens para o licitante ou entrar em concorrência com
preço desleal só para depois fazer mal feito. Isso nunca fiz e prefiro fechar a
produtora e ir vender picolé na praia, se não houver outro jeito. E jeito
sempre há. Esse blog existe por isso. Para ajudar, para denunciar, para tentar
mudar alguma coisa. E aí você me perguntou:
“...
se alguém for te contratar por um valor razoável pra filmar festinha de de
cachorro você dispensará?”
Foi como disse antes, no passado teria pego
o trabalho sim. Não há nenhum problema em filmar a festinha do Totó. É um
evento social como outro qualquer. E profissional é profissional. Mas hoje não
pegaria nem o cliente me pagando o “tal valor razoável”. Indicaria um colega,
uma empresa parceira que fizesse esse tipo de trabalho.
É exatamente o sentido principal da segunda
parte do post. Filmar casamento, festa de gente ou de bicho exige uma
expertise, uma especialização. Tem os macetes que só quem é do ramo conhece.
Então para que vou ser fominha de pegar um trabalho que não conheço só para
lucrar? Vou entregar um produto com
pouca qualidade, deixar de fazer um trabalho que eu já tenha prática e com isso
no final a soma dá zero. Não vai nem para a frente, nem para trás.
E pode ter certeza Lucino, que não é só
você que:
“As
vezes fico 60 dias parado, e quase enlouqueço, e quando olho minha prole
crescendo, penso que não posso deixa-la passar por algumas mazelas que eu tiver
que passar (graças a Deus!)”
Nós aqui também. E todo os colegas Brasil a
fora, principalmente nas pequenas produtoras. Os colegas daqui, que fazem
eventos sociais, reclamam que além da diminuição dos pedidos de filmagem,
sofrem também com os fotógrafos que passaram a oferecer a filmagem quase de
graça para ganharem o cliente. As produtoras de comerciais para televisão e
vídeos corporativos, mais acentuadamente as pequenas e médias, reclamam da
invasão do mercado pelas produtoras de eventos sociais, que também praticam
preços desleais.
E reclamam também das agências de
publicidade, que colocam estagiários para fazerem cartelas por preços
irrisórios e que priorizam sempre determinadas produtoras para fazerem os
comerciais mais caros. Eu mostrei claramente como é esse mercado no texto sobre
a publicidade oficial do governo.
Mas o que fazemos a respeito disso? Quantas
pessoas lêem meus textos? Quantas se calam? Quantas, com você, me respondem
para acrescentar opiniões? A televisão brasileira fez 60 anos e ainda não temos
um sindicato da classe. Os empregados tem e lutam por seus direitos. Fazem
cumprir a lei dos radialistas. As agências de propaganda tem uma lei
regulamentadora desde 1965 e mais o CONAR. E nós? Nunca conseguimos criar um
sindicato patronal. Em nosso meio é um querendo puxar o tapete do outro. Quantos
blogs iguais ao nosso tem no Brasil?
Quem se dispõe a repartir conhecimento? Pelo contrário, nossa classe
vide de esconder o jogo uns dos outros.
E quando você diz achar:
“...utópico
também, sua esperança que com a regulamentação da nova lei da Ancine, [e que] as "GRANDES"
produtoras vão encontrar uma maneira de burlar a lei. [e que] vai ser um verdadeiro festival de "produtorazinhas
laranjas "perpetuando a máfia que já é vigente...”
Você talvez esteja certo, pois provavelmente
é isso que vai acontecer. Mas somente se deixarmos. Se nos acomodarmos e
continuarmos a enfiar a cabeça na terra como o avestruz. Ai vai chegar um
gringo qualquer e vai dar um chute no nosso traseiro, como fez o funcionariozinho
medíocre da FIFA. Se dizem que o brasileiro tem complexo de vira-lata,
infelizmente eu acho que nossa categoria já passou do nível do complexo. O caso
é mais grave. Estamos já latindo para a lua e tentando morder pneu de carro. Nos convencemos que somos os próprios
vira-latas.
E para finalizar esse post, faço minhas as
suas palavras finais no comentário:
“Não
devemos baixar a cabeça é claro, mas, não vejo tantas flores assim para nós.
Talvez
eu esteja estupidamente errado, TOMARA!!!”
Super texto o seu Lucino!
Grande abraço a todos!
Marcelo Ruiz
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Marcelo Ruiz
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