Olhando assim de
perto a simplicidade e o tamanho da lente LUMIX G 14mm/1:2,5 um fotógrafo, que
ainda não tenha trabalhado com ela, não vai imaginar a qualidade da imagem que
ela proporciona. Aliás, já não
resistindo ao trocadilho, em se tratando de lentes, nem sempre o maior tamanho
proporciona o maior prazer. Putz! Eu
sei, meu leitor, foi infame esse.
Mas a verdade é que o assunto lentes, que a
partir desse post começo a tratar mais a miúdo aqui no blog, é um tema
fascinante e inesgotável. E também uma jornada repleta de surpresas e
armadilhas. Novamente observando a imagem acima com a Lumix G14 e a Lumix G Vario 14-42 ao lado
dela, poderíamos dizer que um leigo em fotografia tenderia a achar que a lente
maior fosse a melhor ou ainda que a
14-42 pudesse substituir a 14 prime, já que sua distância focal mínima é a
mesma da G14.
Novamente vou bater na mesma tecla: muitos
cinegrafistas ainda estão acostumados a praticidade das lentes zoom
padronizadas. Fico triste quando percebo
um câmera colocando o equipamento todo no modo automático, inclusive íris e
foco da lente, se resignando apenas a operar a alavanca de zoom. E vejo isso
acontecer não apenas com novatos, que teriam a desculpa de estarem aprendendo.
Profissionais com tempo suficiente estrada para já terem aprendido os segredos
da fotografia, também fazem isso, muitas vezes apenas por comodidade.
É verdade que algumas delas possuem lentes
compatíveis com os controles automáticos da câmera, mas as verdadeiras
preciosidades, as lentes que realmente fazem a diferença, não são do mesmo
fabricante e não possuem chips internos. Todo o trabalho de focagem, distância
focal e abertura de diafragma deve ser pensado e executado pelo cinegrafista. E
para usar a lente certa para a cena desejada, também não basta apenas saber
operar. Tem que conhecer um pouco das características das principais lentes
para emprega-las de forma correta, tirando o máximo proveito de suas
qualidades. Isso é a mágica da fotografia artística voltando.
Aquela sopra de letrinhas que toda lente
traz impressa na frente, junto com o nome do fabricante e até mesmo o número de
série, não estão ali só para enfeitar. Muitas vezes visam impressionar o
comprador incauto. Não que os números estejam errados, mas a lente em si,
apesar das características parecerem ótimas, tem problemas graves de aberração,
distorção e muitas vezes até de focagem (ou nitidez). É o caso das lentes mais
baratas de fabricantes alternativos. Não vou citar nomes.
Mas duas regras são bem válidas (com exceções
é claro): se é pesada e cara é boa. Vamos começar então na prática. Veja o
vídeo abaixo. Foram utilizadas duas lentes Panasonic Lumix que, além de serem
montadas nas câmeras fotográficas da marca, podem ser usadas nativamente na
nova filmadora AG-AF100, dá qual já falamos aqui no blog. Observe a diferença
entre as duas tomadas e tente interpretar os dados das lentes que coloquei
junto com o filme.
Descobriu o que causou a diferença, pelo
menos em uma leitura inicial? Sim. A abertura da lente 14mm prime é 2 f stops maior que a 14-42.
Portanto sem alterar o ISO ou shutter
speed obtemos uma imagem mais clara e
com menos ruído. Mas não se trata apenas
disso. Aumentando um frame do vídeo 400% vemos que a definição também mudou
dramaticamente.
A lente 14mm prime consegue resolver melhor
os detalhes finos. Basta observar o relógio de pulso. O número 30 no aro
externo desapareceu dando lugar a um borrão branco no vídeo captado com a lente
14-42. Lembrando que os objetos, a câmera e a distancia focal nas duas tomadas
foram as mesmas.
Com a abertura menor da lente 14-42, o
chaveiro com um boneco vermelho e amarelo ao fundo acabou ficando mais em foco.
Ou seja, a profundidade de campo da lente 14 mm prime é bem menor e portanto
mais precisa. Evidentemente isso pode ser uma vantagem ou desvantagem. Tudo
depende da intenção do diretor e do cinegrafista ao elaborar uma tomada.
Mas tudo isso que falamos agora, e esse
tipo de teste rápido e não científico são sempre afirmações subjetivas, já que
a claridade absoluta e a resolução de uma lente podem varia de observador para
observador, sendo influenciada inclusive pela acuidade visual de cada um deles.
Para obter uma avaliação isenta de critérios de subjetividade, os fabricantes
de equipamentos óticos criaram a tabela MTF (Modulation Transfer Function) que representa em um gráfico as
qualidades de uma lente analisando a modulação (ou transformação) que a lente
faz em cada fração da luz que passa por ela.
Vejamos o que dizem as duas tabelas das lentes
mostradas nesse artigo:
As linhas azuis e verdes na lente prime
14mm indicam uma maior consistência de resolução e contraste do centro até
quase a borda externa da lente (um círculo imaginário de 12 mm). Na parte
direita da figura acima vemos o desempenho da lente 14-42 em sua distância
focal mínima (14mm) correspondente a lente prime 14mm. A linha verde pontilhada
representa a resolução meridional alta da lente. A resolução meridional alta representa
a capacidade de resolução de imagem da lente (nitidez da imagem). Na lente
14-42mm, de acordo com a tabela da Panasonic, a resolução cai constantemente a
partir do centro da lente. a partir dos 12mm de um círculo imaginário no centro
da lente, a resolução fica abaixo dos 60% MTF, que seria o limite da faixa aceitável
de resolução. Por isso o relógio de pulso aparece sem nitidez. Note que o
relógio, no frame não ampliado, está localizado ligeiramente fora do centro da
imagem, mais para o lado direito e a tabela da lente nos diz que tudo que
esteja fora do centro exato da lente, gradativamente estar menos nítido em direção
as bordas da lente e por conseguinte, do quadro da imagem capturada pelo CMOS
da câmera.
Se analisarmos o preço das duas lentes,
veremos que a lente 14mm prime, melhor (ou mais nítida,) esta custando hoje
cerca de US$ 303,00 e a 14-42mm trs vezes menos, US$ 103,00. O logico, levando
em conta os custos de fabricação, seria a
lente 14-42mm custar mais, pois tem mais elementos mecânicos internos, além de
mais lentes (12 elementos em 9 grupos) do que a 14mm prime que possui menos
partes mecânicas e menos lentes (6 elementos em 5 grupos).
Mas no mundo das lentes as coisas não
funcionam dessa maneira. As lentes melhores, mesmo sendo mais simples demoram
mais tempo para serem fabricadas, pois a parte mais difícil é o polimento e
ajuste das lentes. Então os custos ficam mais elevados. Existem lentes da Nikon
que demoram quase um ano para serem fabricadas, enquanto outras são montadas as
centenas por dia. Claro que o custo final não poderia ser igual.
Nos próximos artigos sobre o tema lentes,
vou falar sobre alguns desses modelos especiais que apesar de muito caros,
valem cada centavo investido. Mais uma vez é bom lembrar: O nosso produto final
é a boa imagem somado ao conteúdo. Para haver imagem é preciso luz. E para
captar bem essa luz uma boa lente é fundamental. Não adianta apenas ter uma boa
câmera, se ela não tem uma boa lente. E não adianta querer logo filmar tudo
para acabar rápido.
A primeira regra é observar por um bom
tempo o assunto que você irá filmar. Depois gastar bastante tempo iluminando de
forma perfeita. Antes de gravar, faça testes com diversas lentes e só depois
aperte o botão REC.
Grande abraço a todos!
Marcelo Ruiz
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Marcelo Ruiz
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