Não resisti e comprei uma Panasonic Lumix
GF3 usada no Mercado Livre. Queria comprovar eu mesmo os bons comentários que
tem sido feitos em outros blogs sobre a linha de câmeras digitais compactas da
marca. A GF3 nem é o modelo mais completo e sofisticado da gama. Atualmente a câmera
top de linha da série G é a Lumix GH2 e mesmo a GF3 já tem uma atualização, a
GF5. Mas vamos ao que interessa. A GF3 é uma câmera situada entre as DSLR e as
câmeras compactas tipo point-and-shot.
Possui um sensor CMOS de formato APS-C com 12 megapixel e lentes
intercambiáveis no formato Micro Four Thirds desenvolvido pela
Panasonic em parceria com a Olympus.
Esse formato vem ganhando muitos adeptos no
mundo da fotografia não profissional, entre os chamados amadores sérios. Não possui, como as DSLR, um visor ótico
prismático e nem o sensor full 35mm. São
câmeras compactas que cabem no bolso da calça e na palma da mão. Mas não se
enganem com o tamanho e a simplicidade. Apesar do despojamento externo com a ausência
quase total de botões, sendo toda controlada através de um dial giratório ou
mesmo pela tela touch-screen, o que
causa alguns inconvenientes na hora da configuração em modo totalmente manual,
essas pequeninas maravilhas da tecnologia fotográfica não deixam a desejar em
poder de processamento e recursos.
Basta dizer que toda a serie G da Panasonic
usa o mesmo processador de imagens e sensor 4/3 que foi utilizado na construção
da câmera de vídeo profissional AG-AF100, da qual já falamos aqui no blog.
Evidentemente a AG-AF100 possui diversos recursos que não caberiam no corpo minúsculo
das câmeras fotográficas. Mas a qualidade da imagem é a mesma. É incrível o que
a Panasonic conseguiu fazer com o formato. Além da qualidade das fotos não
deixar nada a desejar em comparação com outras DSLR profissionais, elas ainda
gravam vídeo em formato Full HD 1920 x 1080 @ 30fps. E ainda podem ser
turbinadas graças a possibilidade de reconfiguração do firmware original. Isso
mesmo: elas podem ser hackeadas!
Essa façanha está hoje ao alcance de todos
graças a um amante da fotografia e dos computadores russo chamado Vitaliy Kiselev, que conseguiu criar um programa para alterar o firmware original de
alguns modelos de câmeras, fazendo-as funcionar muito melhor e com infinitas
possibilidades de configuração de imagens e vídeos. Pelo sucesso que essa nova
forma de interferência nas câmeras, por enquanto possíveis apenas em modelos
não profissionais, está fazendo entre cineastas iniciantes, eu não duvido que
logo apareçam categorias voltadas a essa
nova forma de arte, em festivais tradicionais ou mesmo o surgimento de mostras
competitivas dedicadas a essas câmeras.
Assim que recebi minha GF3 arregacei as
mangas e reconfigurei a mocinha com um firmware chamado Driftwood (nome de um
dos membros do blog do Kiselev) Orion
Sedna. Mas o que faz exatamente essa modificação do firmware da câmera?
Vamos ver um dos atributos. Geralmente todos os modelos de câmeras de vídeo que
usam o codec AVCHD limitam a taxa de dados de gravação dos arquivos a
velocidades entre 23 e 28 Mb/seg (cerca de 3,5 MB/seg). Com isso tornam os
arquivos pequenos, possibilitando maior tempo de gravação nos cartões de dados.
um cartão SD Card de 16 Gb pode gravar cerca de 89 minutos de vídeo HD na
qualidade máxima. Com a modificação na
minha GF3, o mesmo cartão de 16 Gb só consegue armazenar apenas 15 minutos de
vídeo HD.
Em compensação a GF3 está gravando os
vídeos em uma configuração semelhante ao AVC Intra 100. Ou seja, usando uma
taxa de dados de cerca de 100Mb/seg (12MB/s) em compressão intra-frame, ou
seja, ao invés de compactar o conteúdo de 15 frames em 3 frames contendo as
informações de todo o GOP (Group of Frames), ela grava toda a informação do
frame capturado nele mesmo, sem compara-lo com os anteriores e os posteriores,
fazendo a predição e interpolação dos elementos da imagem que se moveram entre
vários frames consecutivos. O AVCHD consegue tão boa qualidade e arquivos
pequenos graças a esse processo que utiliza algoritmos matemáticos.
Mas ao compactar parte da informação de
vários frames em um só e usar cálculos complexos para "predizer" o
que irá mudar de um quadro a outro, acaba incorporando as imagens os ruídos
chamados de "artifacts"
(aqueles pontos claros e erráticos que degradam as imagens, semelhantes aos
ruídos de preto em cenas com pouca luz). Nos poucos testes que pude fazer até
agora, fiquei bastante impressionado com o desempenho da nova configuração,
principalmente em captações de objetos com muito movimento.
Outra vantagem dessas pequeninas, é o
sensor de tamanho generoso (quase um Full Frame 35mm), que permite uma excelente
definição de detalhes e principalmente um ótima profundidade de campo. Abaixo
podemos ver um exemplo que gravei rapidamente hoje. Ainda vou postar aqui
exemplos melhores e mais elaborados. Por enquanto estou limitado a apenas uma
lente que veio com a câmera, uma Prime (foco fixo) de 14mm e 2,5 de abertura
máxima. Estou providenciando ($$$) outras lentes para fazer mais testes. E vale
lembrar que essas lentes são compatíveis com a AG-AF100 que também pretendo
adquirir brevemente.
Nesse rápido exemplo podemos observar o
belo desfoque do segundo plano e a boa resolução de detalhes do primeiro plano.
Ao pausar o vídeo, quase no final, observem que mesmo a botoeira do sinal de
trânsito não está totalmente focada no primeiro plano. A profundidade de campo
é tão curta que apenas a porção da caixa mais próxima a lente está em foco. Com
as configurações de abertura da lente e a distância em que a caixa foi filmada,
apenas uma curta faixa que vai de 19,5 cm até 20,7 cm da lente está em foco.
Essa precisão do campo focal é uma das
vantagens doas câmeras de grande sensor e das lentes de distância focal fixa,
permitindo takes mais criativos onde podemos destacar na cena capturada apenas
o que é necessário dentro da história que está sendo contada. O desfoque
controlado leva o olho do espectador direto ao motivo que queremos destacar na
imagem. É essa possibilidade que tem levado mais e mais diretores e
cinegrafistas a optarem por câmeras como a Canon 5DMKIII e incentivado os
fabricantes tradicionais de câmeras de vídeo a lançarem modelos como a linha
NEX da Sony e outros mais sofisticados como a F3 e a própria Canon a colocar no
mercado a C300 que compete diretamente com sua própria 5DMKIII.
Em breve prometo postar uns vídeos mais
elaborados com a GF3 para podermos comparar melhor sua performance com as
câmeras tradicionais.
Grande abraço a todos!
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Marcelo Ruiz
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