Nessa
série de três artigos vamos discutir os novos desafios para as pequenas e
médias produtoras independentes de conteúdo. Uma categoria, agora definida por
lei, que por enquanto não saiu do papel, mas que pode representar uma esperança
para milhares de pequenos empreendedores em todo Brasil, que há décadas lutam
por sobreviver em um mercado marcado por contrastes e desigualdades.
Para
facilitar a leitura, optamos por dividir o texto em três partes. Na primeira
parte foi apresentado um pouco da história e das condições atuais da
categoria. A segunda parte tratou das
mudanças no cenário da produção de conteúdo independente, publicidade para
televisão, produção para cinema e o impacto e desafios para as produtoras de
conteúdo . Nessa terceira e última parte vamos falar sobre as novas tecnologias
disponíveis e sua importância para a sobrevivência das pequenas e médias
produtoras.
Equipamentos...
sempre os equipamentos... Mas o principal
deles é nosso olhar e depois a câmera.
Nos dois primeiros posts dessa série
falamos sobre a história, as condições atuais e os novos caminhos para a
produção de vídeo profissional. Embora seja uma tendência global, procurei
focar mais na realidade do nosso país. No exterior, características como maior avanço tecnológico, maturidade do
mercado e métodos diferentes de produção, adiantaram mais esse processo. Mas
ele está em andamento por aqui, seguindo as tendências de globalização.
Equipamentos... sempre os equipamentos! Sem
dúvida eles são sempre necessários e nunca suficientes. Mas pelo menos hoje,
nesse post, não vou tratar de todos eles. O assunto é muito vasto e falaremos
deles ao longo dos próximos textos. Nesse último capítulo quero focar na câmera
de vídeo. Ela que é a nossa colher de pedreiro, nosso serrote e formão, nossa forja.
Somos, tal qual o mestre-de-obras, o carpinteiro e o ferreiro, artífices que
moldam os materiais para criarem suas obras. Nossa matéria prima é a luz e nossa ferramenta a câmera. Não
existe produtor - aqui pensado no sentido do profissional multitarefa que além
da direção de fotografia administra sua própria empresa – que trabalhe sem a
câmera. Pelo menos uma já é suficiente.
Lembram onde falamos da terceirização e da
parceria? Nossa câmera é a mulher amada, com quem estabelecemos uma relação de
profundo conhecimento e intimidade. Não acredito em produtoras onde não haja
pelo menos uma câmera. Não precisa ser a melhor, mas deve estar lá. Pelo menos
para experimentar, testar novas idéias, atuar na pré-produção. Nos ajudar a
ver. As demais, nesses tempos de mudanças rápidas, podem ser alugadas,
emprestadas ou objeto de outras parcerias.
Em 2011 falamos aqui no blog sobre diversas
câmeras. Foi uma série com cinco vídeos. Cobrimos quase todos os modelos. Do
cinema digital ao evento social. Acho que falamos pouco. O assunto das ilhas de
edição e dos seus softwares tomou muito tempo. Não era nossa idéia falar tanto
a respeito. Mas foi necessário, ao percebermos a lacuna de informações sobre o
tema. Gosto da fotografia. Sou apaixonado por ela e modestamente acho que é o
que faço de melhor. A atividade onde coloco mais meu coração. O resto, são os
ossos do ofício.
Sendo a câmera nossa ferramenta principal,
independente de especializações e de nichos de mercado, é nela que devemos
colocar o foco agora. Em todas essas mudanças que ocorrerão, ela está tendo o
papel principal. Exceto aos fotógrafos,
que eventualmente produzirão filmes, indico as DSLR. Mais especificamente a
nova Canon 5D MKIII, se quiserem minha opinião. E para os demais que se expressarão
mais pelo vídeo, aconselho as câmeras tradicionais.
A principal mudança de cenário, na produção
profissional de vídeo, é a convergência. Ou, definindo melhor, a sinergia entre
as diversas mídias. A televisão migrou para o digital. O cinema resistiu até
onde pode, mas se rendeu a mudança. A alta definição mudou o olhar dos
espectadores, levando a qualidade do cinema para dentro de suas salas. A
possibilidade dos 30 ou 60 frames por segundo, nos painéis de LED ou LCD,
tornou as cenas de ação mais fluídas e naturais. Melhores até do que quando
exibidas nas salas de cinema.
Os diretores e estúdios perceberam isso. Depois
de mais de um século defendendo os 24 quadros por segundo, agora querem 30, 48 até
60 frames por segundo. Eles buscam, quem diria, uma experiência televisiva no
escurinho do cinema. A televisão, por sua vez, sempre flertou com a telona. Daí,
entre uma pipoca e outra, o pedido de casamento foi apenas uma questão de
tempo. E provavelmente serão felizes para sempre.
Mas essa história de amor tem contornos de
dramalhão mexicano. Na verdade, um triângulo amoroso, já que a internet, amiga
íntima do casal, não quer ficar de fora. Então se trata de um filme adulto,
pois Seu Cinema e Dona TV também desejam ardentemente a senhorita web. Esta,
uma garota precoce, já tem alta definição e trinta quadros. E olhe que progressivos!
Muito em breve poderá ter 60 e definição 2K. Não foi sem razão que seu mais
novo filho, o iPad 3, tenha nascido
forte e saudável com 2048 x 1536 pixel de resolução de tela.
Para quem ainda tem dúvidas que a web se
torará em alguns anos o maior mercado comprador de vídeo, não custa relembrar o
caso da fabricante de automóveis alemã BMW. Entre 2001 e 2003 investiu US$ 35
milhões em oito filmes de curta duração para seu site. Todos com o astro Clive
Owven, tendo como atriz coadjuvante a bela BMW Z4, atuando sob a régia de
diretores consagrados e uma produção mais sofisticada e cuidada do que muitos
filmes de longa metragem. Somente no primeiro ano de exibição os quatro
primeiros filmes alavancaram as vendas da montadora em mais de 12%.
O mercado, escandalizado, começou a prestar
atenção ao formato. Os filmes, atuando como vt’s de propaganda, acabaram tendo
uma vida mais longa do que o esperado. Depois dez anos de exibição e mais de
100 milhões de visualizações, continuam a fazer sucesso entre os internautas. Isso
convenceu muitas empresas, em várias áreas de negócios, que produzir com
qualidade para a web é tem um excelente custo-benefício. Aqui no Brasil já se
fala bastante no assunto.
Os cinco últimos parágrafos tem um
denominador comum que também sintetiza toda essa nossa conversa sobre mudanças
e desafios: Qualidade de captação.
Parecem um mantra mágico que está mexendo
com as cabeças que pensam e comandam os mercados de meios multimídia. O
casamento que você perdeu, o comercial que você não filmou, a produção para uma
série de TV ou longa metragem, captada em sua cidade, por uma produtora que
veio de fora e que fez você ficar de longe observando, todas utilizaram câmeras
com lentes intercambiáveis e sensor de
grande formato. Essa é a mudança.
Então pode ir se despedindo de sua velha
companheira de lente fixa e sensor minúsculo. Arrume um lugar de honra para
ela, na estante atrás da sua mesa de trabalho e corra atrás do prejuízo. Ou
melhor, do lucro. Mesmo as recentes NX5, HPX 1700, Z7 e demais câmeras de lente
fixa acabaram de ficar obsoletas. Acabaram? Acabarão? Será que foi erro de
gramática? Quando? Daqui a dois anos? Não. Já estão ultrapassadas.
Porque? Simples: Os produtores,
realizadores, diretores, agências e clientes não querem mais as imagens
pasteurizadas, semelhantes e chapadas produzidas pelas lentes fixas. Lembra do
namoro do Seu Cinema e da Dona TV? Para garantir a longevidade do casamento
prometeram deixar o que não era importante para segundo plano, bem fora do foco
principal, prometendo um ao outro dar importância apenas aos assuntos em
primeiro plano. E também juraram não
terem assuntos obscuros ou super exporem suas imagens. Além disso acharam
melhor viver a vida somente em cores vibrantes e bem definidas.
Brincadeiras à parte, já vão em boa hora
essas imagens sempre iguais e sem definição de planos. Os vermelhos saturados e
os verdes tingidos de azul. Mesmo a menor câmera de bolso hoje, já conta com a
possibilidade da troca de lentes. Os formatos Four Thirds e Micro Four
Thirds, este último criado pela Panasonic e pela Olympus, já ganham adeptos
de peso como a Leica. Todos esses
fabricantes têm modelos compactos, uma grande variedade de lentes e uma
qualidade excepcional. É uma evolução, ou melhor uma mudança de conceito, que
vem acompanhando a migração dos meios analógicos para o formato digital.
Em um primeiro momento digitaliza-se. Para
criar mercado, simplifica-se. E para atrair o consumidor reduz-se o preço. Em
seguida vem a sofisticação, que tem a ver com o desejo, que por sua vez
retroalimenta o consumo. Os CD substituiu o vinil. Hoje ele retorna como
produto de consumo de alto padrão, com foco na exclusividade e principalmente
na qualidade sonora. O DVD sucedeu o VHS e popularizou o cinema digital. Hoje,
o Bluray investe na qualidade de imagem como propulsor de vendas.
As câmeras e filmadoras digitais, essas sim
mataram o processo analógico em vídeo e vão tirar quase todo o espaço da
película. Esta, terá uma existência
semelhante ao vinil: um nicho para os puristas. E agora entram na fase final do
processo. Depois conquistarem o mercado consumidor pela praticidade, redução de
tamanho e peso e integração a outros aparelhos como o celular, partem para a
consolidação da qualidade da imagem.
E não devemos confundir aqui resolução, que
é expressa em megapixel, e diz respeito ao tamanho, com a nitidez, que destaca
a qualidade. Hoje existem câmeras, até mesmo para celular que possuem 40
megapixel de resolução. Uma grande bobagem criada para estimular o consumo.
Além dos 23 megapixel, o olho humano não percebe a diferença de resolução. Mas
mesmo uma imagem com astronômicos 40 megapixel não engana o olho humano. Se
estiver fora de foco, com aberrações cromáticas e distorções de lente o tamanho
não corrige os defeitos, pelo contrário, faz acentuar. E nitidez é a palavra
chave nessa mudança de paradigma da captação de vídeos, principalmente para a
televisão e a internet, já que o cinema sempre usou lentes e sensores de
qualidade.
Então o que temos até agora? Convergência
de mídias e formatos, busca pela qualidade ótica e estética das imagens,
retorno à fotografia (cinema, vídeo e fotos) com alta qualidade técnica e finalmente
redução de custos. Eu já havia citado redução de custos nesses textos? Acho que
não. Mas proponho a troca de equipamentos mais simples por outros mais
sofisticados, onde entra a redução de custos?
A resposta é simples: Como a corda sempre se
rompe do lado mais fraco, a redução beneficia os fabricantes de equipamentos.
Esses caras muito espertos, já sacaram isso tudo que falamos a algum tempo
atrás. Afinal, o que foi aquilo com a Sony HVR Z7U? Do nada surge uma câmera de
baixo custo com lentes intercambiáveis. Mesmo que até agora, quando ela começa
o fim de seu ciclo no mercado, ainda não tenhamos visto as lentes opcionais
para ela.
A Sony estava testando o mercado. A questão
era simples e a RED CINEMA entendeu isso em 2007. O foco, o nicho, é a fabricação do corpo, do
hardware de aquisição, processamento e armazenamento de imagens. Lentes são
caras. São uma tecnologia a parte. Coisa que, sem preconceitos ou
puxa-saquismo, só alemão sabe fazer bem. Japonês está quase lá, mas ainda falta
um tiquinho nê! Com essa estratégia,
os fabricantes puderam focar na tecnologia embarcada e reduzir muito os custos de
fabricação.
Além de simplificar e diminuir o tempo de
projeto dos modelos, já que dividem com os fornecedores de lentes essas
pesquisas e desenvolvimento. Daqui por diante, os principais lançamentos para o
mercado de televisão e cinema de baixo custo, estarão quase todos focados em modelos de lentes
intercambiáveis e com sensores de imagem 35 ou Super35mm. Só por uma questão de
curiosidade técnica, podemos exemplificar citando novamente o modelo Sony Z7.
O modelo, que tem preço sugerido de US$ 6.850,00
com lente inclusa, poderia ser vendido por cerca de R$ 1.500,00 sem lentes, pois
a ótica padrão que vem nela, da renomada Zeiss, custa para a Sony, o dobro do
valor de fabricação da câmera. Como dizia Mané Garrincha, o problema foi não
ter combinado ganhar o jogo com o inimigo. Os fabricantes de lentes não se
animaram a produzir modelos com um bocal proprietário da Sony e que só serviria
na Z7.
Preferem investir em lentes com montagem
Canon, Nikon e principalmente, no caso de lentes para cinema, para o padrão PL
da ARRI, que é também utilizado por diversos outros fabricantes de câmeras a
mais de 30 anos. Por esse motivo modelos como RED ONE, EPIC, SCARLET da RED Cinema, a nova Sony PMW-F3 e a recém
lançada Canon C300 foram projetados para lentes PL. E a Panasonic, mesmo lançando a AG-AF100 com
montagem Micro Four Thirds, do qual
possui a patente junto com a Olympus, liberou o licenciamento do formato para
fabricantes de adaptadores, e na estréia do modelo, já haviam no mercado alguns
kits de conversão do bocal MFT para o padrão PL. E mesmo o sistema Micro Four Thirds conta com uma ampla
oferta de lentes da própria Panasonic e de fabricantes como Olympus, Leica e
Sigma.
A tática da Sony, da Panasonic e da Canon lançando
modelos com sensor de grande formato não foi apenas uma estratégia para barrar
o sucesso das DSLR como a 5DMKII da própria Canon. A idéia era refinar a
captura de imagens e ao mesmo tempo se beneficiar do uso das lentes de
cinema e também permitir o uso de lentes
fotográficas padrão 35mm, que oferecem um foco preciso, profundidade de campo
muito seletiva e uma enorme oferta de modelos em várias faixas de custo.
Essas câmeras também aceitam a maioria dos
periféricos e acessórios aos quais os profissionais de cinema já estão familiarizados,
como para-sois, suportes de filtros, sistemas de rack para montagem de
acessórios, além de monitores, sistemas de follow-focus, baterias profissionais
e gravadores externos. Isso torna mais fácil a locação desses periféricos, que
sendo universais, são facilmente encontrados em locadoras de equipamentos em
qualquer parte do mudo. Sendo o sistema quase todo modular, o produtor filmando
com baixo orçamento, pode adquirir apenas o essencial e locar os itens mais
caros apenas quando necessário.
E qual modelo oferece hoje o melhor
custo-benefício e qual seria o kit básico para iniciar essa migração de
equipamentos? Basicamente, existem hoje, dentro da faixa de US$ 5.000,00 até
US$ 25.000,00, quatro modelos que atendem a essas novas características. Felizmente
são de fabricantes diferentes, para agradar a quem tem preferência por marcas. E também de
custos situados em três patamares de orçamentos. Evidentemente existem diversos outros modelos
no mercado. Porém com preços acima dos US$ 100.000,00 podendo mesmo chegar facilmente
a casa do meio milhão de dólares. Mas são para outro segmento do mercado e aqui
no blog prefiro falar das possibilidades acessíveis aos pequenos e médios
produtores.
Todos tem a opção de serem adquiridos com
ou sem lentes. Estas podem variar entre modelos para fotografia com custo mais
modesto (a partir de US$ 200,00), indo até as lentes compact-primes, desenvolvidas para esse mercado iniciante com
preços até US$ 7.000,00 por lente. Muitos se assustarão com esse tipo de valor
por apenas uma lente. No caso de algumas câmeras, esse custo é maior que o
preço de aquisição da mesma. Mas se considerando que algumas lentes prime custam até US$ 300 mil, podemos
considerar uma lente na casa dos US$ 5.000,00 como sendo de custo razoável para
a utilidade e qualidade que proporcionam.
Veja a seguir as principais características
dos quatro modelos, já disponíveis oficialmente no Brasil, que inclusive tem
recebido atenção especial dos revendedores oficiais das marcas, através da
promoção de eventos de apresentação e oferta de preços e condições de pagamento
diferenciadas.
Parâmetro
|
Panasonic
AG-AF100
|
Sony
NEX-FS100
|
Sony
PMWF3L
|
Canon
C300
|
Tamanho sensor
|
4/3 18 x 10 mm
MOS
|
Super 35mm
23.6 x 13.3mm CMOS
|
Super 35mm
23.6 x 13.3mm CMOS
|
Super 35mm
23.3 x 13.8mm
CMOS
|
Fator de corte
|
2.0
|
1.6
|
1.6
|
1.6
|
Esp. de cor
Mídia interna
|
4:2:0
|
4:2:0
|
4:2:0
|
4:2:2
8 bits
|
Esp. cor
Mídia externa
|
4:2:2
8 bits
|
4:2:2
8 bits
|
4:2:2/4:4:4
10 bits
|
4:2:2
8 bits
|
Tipo de mídia
Interna x qt
|
2 x SDHC, SDXC
|
1 x SDHC,
SDXC
|
2 x SXS
|
2 x CF Card
|
Saídas A/V
|
HDMI/SDI
|
HDMI
|
HDMI/Dual SDI
|
HDMI/ SDI
|
Ergonomia e
praticidade
|
Boa
|
Ruim (sem ocular e LCD mal posicionado)
|
Boa
|
Muito Boa
|
Preço
|
US$ 4.995,00
|
US$ 5.850,00
|
US$ 16.800,00
|
US$15.999,00
|
Acessórios
|
A/C e bateria
Mic Interno
|
A/C e bateria
Mic Externo
|
Sem A/C
sem bateria
|
A/C e bateria
|
Esse foi o último artigo dessa série. Agradeço a leitura e prometo para breve uma
análise mais detalhada das câmeras citadas, seus acessórios e a relação custo-benefício de cada uma. Para ler as duas primeiras partes desse post, use os links a seguir.
Parte 1
Parte 2
Parte 1
Parte 2
Grande abraço a todos!
Marcelo Ruiz
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Marcelo Ruiz
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