Emissoras de TV trabalham na cobertura de jogo da Copa das Confederações, no Mineirão, Belo Horizonte Imagem: Carolina Juliano/UOL |
Venho alertando há muitos anos sobre os rumos que a produção
de vídeo e cinema está trilhando no Brasil. E esse caminho tem nos levado cada
vez mais perto do precipício. Mas sou voz única pregando no deserto. Atitudes como mesquinhez, traição, falta de
modéstia e humildade, egocentrismo e idolatria a certas figuras e práticas de
mercado fizeram com que, mesmo após mais de 50 anos de existência da televisão
no Brasil e quase um século de cinema, o mercado ainda engatinhe em termos de
sustentabilidade e viabilidade de mercado.
Essa semana saiu uma matéria no site UOL
COPA do grupo Folha sobre o fiasco dos negócios, envolvendo a cobertura da
copa, entre televisões estrangeiras e as produtoras brasileiras. O texto na
íntegra pode ser lido aqui
nesse link. Mas gostaria de destacar alguns trechos pinçados na matéria e
falar um pouco sobre eles. Os textos originais estão entre aspas e itálico:
“Emissoras de TV
estrangeiras estão tendo que rever seus planos de transmissão da Copa do Mundo
de 2014 no Brasil devido aos valores exorbitantes que estão sendo orçados por
produtoras brasileiras...”
Existem aqui duas situações distintas. Essas mesmas
produtoras, que estão tentando meter a faca nos gringos, são as que pagam
diárias miseráveis a profissionais e fornecedores brasileiros, deixando de fora
que não se submete a esse esquema de exploração e criando uma nova leva de
aventureiros. Mas para atender ao padrão do mercado internacional, o esquema do
baixo custo ( leia-se equipamento ruim e maus profissionais) não funciona. E
nessa hora quem tem boa reputação e bons equipamentos dá o troco e tenta
recuperar os prejuízos.
"A verdade é que
muita gente viu na Copa uma oportunidade única de ganhar dinheiro e até de se
aposentar, e essas empresas resolveram inflacionar o mercado", diz a fonte
de uma das maiores produtoras do Rio de Janeiro. "O Brasil já é mais caro
que o resto do mundo por conta dos nossos impostos...”.
Mas não é apenas quem está se sentindo prejudicado pela
entrada de uma enxurrada de equipamentos medíocres, operados por profissionais
idem, que quer recuperar o prejuízo. Realmente muitos pensaram que ima se
aposentar com os “ganhos” da Copa 2014. E já que estamos falando de futebol,
podemos citar a Lei de Gerson: O brasileiro gosta de levar vantagem em tudo
certo?.
Embora possamos fazer uma ressalva quanto a questão da carga
tributária. Existe toda uma cadeia nefasta de tributação, não apenas em nossa
área, mas em todas as atividades comerciais e industriais que requerem
equipamentos de ponta, geralmente importados e profissionais altamente
qualificados. Está quase impossível se produzir no Brasil. Não é a toa que o
nível de industrialização tenha regredido ao correspondente aos anos de 1950.
“O caso mais
emblemático ... é o de um grande canal inglês, que foi um dos primeiros a
fechar um pré-contrato para se estabelecer no Brasil, montar estúdio, trazer
apresentadores e equipes para transmitir direto daqui. Há dias, o canal
rescindiu contrato e diminuiu em 70% seu trabalho no Brasil. "Resolveram
montar o estúdio na Inglaterra mesmo, pois só a montagem aqui custaria US$ 1
milhão. Pagaram a multa rescisória do contrato e agora vão apresentar de lá com
alguns links (entrada ao vivo com jornalista) no Brasil, e ainda resolveram
trazer equipamento e pessoal próprios...".
“Produtores nacionais
informam que a transmissão da Copa no Brasil já teria os custos mais altos do
que no resto do mundo porque a carga tributária é muito grande”.
Aqui novamente vemos o estrago que o tal “custo Brasil” tem
feito nas empresas brasileiras. A
situação é tão grave, que mesmo um estrangeiro tentando contratar com uma moeda
bem mais valorizada, ainda percebe os custos exageradamente altos. E essa
situação exposta agora com a Copa de 2014 e que se repetirá com as Olimpíadas
em 2016, cria uma armadilha. Não demora muito para as produtoras estrangeiras
ligarem os pontos e perceberem que podem trazer o excesso de equipamentos e
profissionais, que estão subutilizados em uma Europa e América do Norte em
crise, para o Brasil. Basta “comprar” um testa de ferro brasileiro. Afinal
existem milhares de produtoras nacionais de pequeno porte que estão
praticamente fechadas.
“Na ocasião do sorteio
da Copa, as fontes informaram que operadores de câmera que geralmente cobram
diária de R$ 150 chegaram a pedir R$ 600, e como no nordeste brasileiro tem
menos profissionais do que no sul e sudeste, até emissoras brasileiras tiveram
que pagar mais caro para terem o serviço”.
Como eu citei antes, é a revanche, a vingança, o sentimento
de recuperar o tempo perdido e sacanear com quem te avilta o tempo todo. Além
do mais, é ridículo e imoral pagar R$ 150,00 de diária, que nunca é de seis
horas como manda a lei, a um profissional qualificado. O valor de R$ 450,00 seria hoje o preço
justo. Se todos fossem pagos nesse
patamar em trabalhos normais, não veriam necessidade de inflacionar para R$
600,00 agora, na hora da falta de oferta, para tentar tirar um extra. Mesmo
porque o sentimento geral da classe é que, quando acabada a Copa, volta tudo ao
que era e a exploração vai continuar.
“...uma emissora
australiana, que previa a montagem de estúdio de transmissão no Rio de Janeiro,
com quatro apresentadores e mais convidados. Isso custaria para eles, na
Europa, por exemplo, US$ 200 mil. No Brasil pediram este valor apenas pela
locação do imóvel onde seria montado o estúdio ... tiveram que mudar de planos”.
Uma coisa que as produtoras nacionais, que estão acharcando
os gringos esqueceram, é que depois da Guerra do Golfo, onde imagens de baixíssima
qualidade e áudio entrecortado, varreram o mundo com relatos ao vivo do
conflito, enviados ao ar via telefones portáteis de satélite, dada a pouca ou
nenhuma infraestrutura existente em Bagdá, as emissoras e telespectadores
acabaram se acostumando com esse novo padrão. Anos mais tarde os vídeos
exaustivamente colocados na web e a popularização do YouTube, acabaram por acostumar
os olhos dos consumidores com esse padrão meio tosco.
E mesmo assim, passadas algumas décadas, a qualidade
disponível hoje em vídeos gravados por smartfones e tablets melhorou muito,
assim como a velocidade de banda disponível para upload desses vídeos. Então o
que veremos na Copa de 2014, são equipes de, no máximo três pessoas, fazendo a
cobertura local das televisões estrangeiras. Basta um repórter, um assistente e
um produtor. Nem cinegrafista e editor
são mais necessários, visto que a maioria dos jornalistas se especializou em
captar e editar vídeos em quartos de hotel ou nos próprios celulares a caminho
da próxima locação.
"No Brasil
cobra-se a mais, por exemplo, por um profissional que fala inglês, mas na
Europa falar inglês é condição primeira para ser um profissional, não cobra-se
por isso", diz um produtor que já trabalhou em cadeias televisivas na
Europa e no Golfo Pérsico. "Tudo isso parece absurdo para quem vem de fora
fazer televisão aqui".
Outra triste realidade do nosso mercado de cinema e vídeo. Apesar
de lidarmos com tecnologias e conhecimento técnico predominantemente
estrangeiro e em língua inglesa, a percentagem de profissionais que dominam o
idioma é muito pequena. Eu mesmo já tive esse feedback e atribuo uma parte do
sucesso desse blog a falta de conteúdo em língua portuguesa. Muitos leitores já
me confirmaram isso. A coisa é tão absurda, que existe um mercado paralelo de
tradutores vendendo cópias em língua portuguesa de manuais de equipamentos de
vídeo e áudio.
“A 150 dias do início da Copa do Mundo do
Brasil não há praticamente contratos fechados entre produtoras brasileiras e
emissoras estrangeiras. Nos próximos dias, quando a Fifa definir e distribuir
as credenciais para os profissionais de imprensa, as emissoras terão que
definir suas estratégias. Há um ano que as produtoras estão fazendo orçamentos
para a Copa e já se observa uma queda nos valores pedidos no mercado”.
"Os estrangeiros
simplesmente não pagam. Eles estão sacrificando a participação deles na
cobertura do mundial devido aos preços praticados no Brasil".
Na verdade não vão sacrificar nada. Vão cobrir a Copa com
imagens geadas por equipes locais reduzidas, produzir conteúdos mais elaborados
em seus estúdios nos países de origem e quanto às partidas, a transmissão já
seria única mesmo, que terá que ser comprada da FIFA. Depois de acabado o
evento os gringos terão aprendido o caminho das pedras para as Olimpíadas de
2016 e se nada mudar por aqui, o que eu duvido, teremos um caso mais grave. A
cobertura será feita por aqui por filiais “nacionalizadas” das grandes redes de
televisão e produtoras estrangeiras. E assim vamos vivendo... afinal, isso aqui
é Brasil.
Grande abraço!
Marcelo Ruiz
Bom dia Patrão! É o Cleber 07.
ResponderExcluirMuito legal esse post pelo ponto de vista de um veículo de informação e o principal, por um grande profissional da área de produção como o Sr.
Quanto aos estrangeiros, isso serve para eles verem como é difícil para se ter alguma coisa aqui no Brasil. Uma pena que País não é empresa, pois se fosse, ia ser uma grande resposta para a Sony que vive sacaneando fabricando modelos para cada continente. Graças a isso temos que comprar uma Sony modelo X seguido de N para nosso mercado se quisermos ter garantia aqui. Se não fosse isso daria para dar aquela burlada nos impostos. Mas maior sacanagem é o tanto de impostos que pagamos para se ter alguma coisa aqui. Estou vendo a hora que vão cobrar o ISAR ( Imposto Sobre o Ar que Respiramos ). Vai ser calculado sobre o peso, altura e idade do cidadão (risos...).
É, brasileiro sofre! Essa copa é um fiasco desde que o Brasil foi escolhido...
Valeu amigão!
Estou bem ruim de saúde mas com esperança sempre.
Grande abraço!
Cleber,
ExcluirO que houve contigo cara? Espero que sare logo amigão!
Grande abraço e muita saúde!
Marcelo Ruiz