Codecs e formatos de vídeo: Sopa de letrinhas... |
Confundir bits com bytes pode gerar uma grande dor de cabeça
e um erro oito vezes maior ou menor. Isso porque em um Byte de informação estão
contidos 8 bits. Há certa confusão sobre as abreviaturas e a grafia, inclusive
em literatura de fabricantes de equipamentos eletrônicos, o que é inadmissível.
Muitas vezes são erros de digitação derivados da falta de conhecimento de quem
diagramou o texto ou a tabela e a consequente falha do revisor. E como usamos
muito essas duas grandezas de transferência e armazenamento de dados no nosso
dia-a-dia profissional, é preciso não confundir e não abreviar errado esses valores.
Então para não esquecer mais e deixar
tudo claro:
1 MegaByte = 8 Megabit
1 Megabit = 0,125
Megabyte
Geralmente se usa a unidade
MegaByte para definir quantidade de armazenamento de dados e Megabit para
definir a velocidade de transporte desses dados. Então dizer que um vídeo
necessita de uma taxa de dados de 25 Mbps (ou megabit por segundo) não é o
mesmo que dizer 25 MBps (ou Megabyte por segundo). Na verdade 25 MBps
correspondem a 25 x 8 Mbps! Ou seja: 200 Mbps. Viram como o erro fica grande?
Para não confundir as coisas deve-se sempre abreviar Megabyte com M maiúsculo e
a letra B também maiúscula, grafando MB. E para o termo Megabit devemos usar o
M também maiúsculo com a letra b minúscula, grafando Mb. Mais uma vez
relembrando:
1 MB = 8 Mb
1 Mb = 0,125 MB
Usando como exemplo o nosso velho
conhecido codec HDV da Sony, lançado em 2003, podemos ver na tabela abaixo, de
onde tiraremos informações úteis para comparação com os novos codec XAVC e AVC
Intra, que ele tem uma taxa de dados de 25 Mbps.
Format name
|
HDV 720p
|
HDV 1080i
|
|
Media
|
"Small" or
"Large" DV cassette
|
||
Video
|
|||
Frame aspect ratio
|
16x9
|
||
Frame size in pixels
|
1280 × 720
|
1440 × 1080
|
|
Pixel aspect ratio
|
1.0
|
1.33
|
|
Scanning type
|
progressive
|
interlaced
|
progressive (optional)
|
Video signal
|
720p/60, 720p/30, 720p/24, 720p/50,
720p/25,
|
1080i/30 (29.97), 1080i/25
|
1080p/30 (29.97),
1080p/24 (23.98), 1080p/25
|
Video Compression
|
MPEG2 Video
(profile & level: MP@H-14/HL)
|
MPEG2 Video
(profile & level: MP@H-14)
|
|
Sampling frequency for luminance
|
74.25 MHz
|
55.6875 MHz
|
|
Chroma
sampling format
|
|||
Quantization
|
8 bits (both luminance and chrominance)
|
||
Compressed video bitstream rate
|
~18.3 Mbit/s
|
~25 Mbit/s
|
|
Audio
|
|||
Compression
|
|||
Sampling frequency
|
48 kHz
|
||
Quantization
|
16 bits
|
||
Audio modes and data rate
|
MPEG-1 Part 3 AL 2 Stereo
(2-channel) at 384 kbit/s (192 kbit/s per channel);
optional MPEG-2 Part 3 AL 2 4-channel at 96 kbit/s per channel. |
||
System
|
|||
Stream type
|
MPEG transport stream (MPEG-TS)
|
||
Stream interface
|
IEEE 1394 in
alpha mode (also known as FireWire 400 or i. LINK)
|
||
File extension
|
.m2t (generally)
|
Se alguém escreve essa mesma
informação usando a abreviação errada, ou seja, que o codec tem uma taxa de
dados de 25 MBps teremos um erro gigantesco ao calcularmos, por exemplo a
quantidade de armazenamento necessária para salvar uma hora de vídeo nesse
formato. Vejamos:
1 segundo de vídeo =
25 MB de espaço
1 minuto de vídeo =
25 x 60 = 1500 MB de espaço
1 hora de vídeo =
1500 x 60 = 90.000 MB de espaço
90.000 MB = 90 GB
Mas esse cálculo está
superdimensionado. Porque na verdade, sabemos que nosso vídeo HDV tem uma taxa
de dados de 25 Mbps. Refazendo os cálculos teremos:
1 segundo de vídeo =
25 Mb de espaço
1 minuto de vídeo =
25 x 60 = 1500 Mb de espaço
1 hora de vídeo =
1500 x 60 = 90.000 Mb de espaço
90.000 Mb = 90 Gb
90 Gb = 90 / 8 = 11,
25 GB de espaço necessário.
Embora a primeira vista complicada e enfadonha, esse tipo de informação é necessário e útil porque nos deparamos frequentemente com esse erro em documentos, papers de fabricantes e artigos escritos. E aí é necessário
parar a leitura e ir conferir a informação. Para esse post mesmo eu me deparei
com isso. Na imagem abaixo está reproduzido um trecho de um documento oficial
da Panasonic. Na tabela vejam as setas vermelhas. Na coluna à esquerda a
abreviatura informa MB/S:
Mais abaixo no texto explicativo
a empresa afirma que o codec AVCIntra LongG 25 tem uma taxa de dados 50% menor
e com a mesma eficiência dos outros concorrentes que utilizam uma taxa de 50 Mbps (ver setas vermelhas):
Diante do que já foi explicado,
se o codec da Panasonic tivesse mesmo uma taxa de 25 MB/s como mostra a tabela, ele teria na verdade uma taxa de dados
quatro vezes maior que os 50 Mbps do
concorrente, porque 25 MB/s equivalem a 200 Mbps. Mas depois de checado o erro
e a informação confirmei, em outros documentos oficiais, que o paper saiu com esse erro de grafismo.
Todos os codecs AVC Intra citados no documento tem suas taxas de dados
indicadas em Megabits por segundo (Mb/s) e não em Megabytes por segundo (MB/s).
Então ao ler a especificação de
qualquer equipamento que faça referência a valores de dados envolvendo taxas de
transferência, capacidade de armazenamento e quantidade de bits ou bytes por
segundo, certifique-se que os valores expressos nas abreviaturas estão corretos
ou se houve erro de impressão do documento ou mesmo erro de interpretação por
quem produziu a informação.
E já que falamos também de codecs
de vídeo, citando o exemplo do HDV, outra coisa importante a se conhecer,
quando trabalhando ou especificando um determinado tipo de codec para
arquivamento ou exportação de vídeo, além da taxa de dados necessária para se
obter a qualidade ou cumprir a especificação determinada pelo cliente é saber
com qual formato de compressão vamos trabalhar, qual a qualidade da amostragem
de cor e que tipo de formato e compressão de áudio vamos utilizar.
No caso do nosso exemplo, o
formato HDV, o codec de compressão será sempre o Mpeg2 do tipo MP@H-14, pois o
padrão Mpeg2 engloba diversos perfis de compressão para finalidades
diferentes. Ainda em relação ao HDV, a
taxa de amostragem de cor está padronizada em 4:2:0 @ 8 bits (e não bytes...) e
o áudio pode ser Mpeg1 Layer II ou PCM, sempre a 48 KHz e 16 bits.
E finalmente, observando a tabela
de características do HDV , no início desse artigo, veremos que o sistema de
envelopamento ou formato (ou wrapper)
usa um transport-stream MPEG (MPEG-TS) com extensão de arquivo *.m2t e interface de comunicação
IEEE1394 também conhecida como Firewire 400 ou i-Link. Observem que a Sony
utiliza a extensão de arquivo *.mts enquanto o vídeo está na câmera ou fita
miniDV e depois esse arquivo é renomeado para *.m2t no sistema de arquivos do
computador onde é salvo.
Esse noção de encapsulamento ou o
wrapper de arquivos de vídeo ainda
causa confusão a muitos profissionais ou leigos. Principalmente quando os
arquivos tem uma extensão ou nome não proprietário. No caso do HDV da Sony, ele
terá sempre as características que já vimos e estas não podem ser alteradas.
Mas a própria Sony utiliza o sistema de compressão Mpeg2 em diversos outros formatos de vídeo e com outras extensões. Um
exemplo é o padrão MXF Olp1a que também é um vídeo mpeg mas usa o sufixo final *.mxf.
Outros formatos de uso público
como o AVI cujos arquivos de vídeo tem a extensão *.avi causam mais confusão ainda. Algumas pessoas acham que se
trata apenas de vídeo sem compressão, mas na verdade um arquivo AVI pode ter um
alto grau de compactação de dados com uso de codificadores como DiVX, MPG4,
Sorenson, Vorbis, Microsoft DV, etc. Nesse caso dizemos que o stream ou wrapper é AVI e utilizamos a extensão *.avi, mas as características
de amostragem de dados, taxa de compressão, formato de áudio, taxa de dados e
interface de transferência podem ser completamente diferentes.
Aí vem sempre aquela clássica
pergunta: Meu arquivo é um AVI simples, mas meu computador o meu programa de
edição não quer abrir e não está reconhecendo. Geralmente o problema está na
falta do plugin para o sistema
operacional ou aplicativo que contem o decodificador para interprestar
corretamente a codificação utilizada para comprimir o vídeo. E quanto maior for
a capacidade de compactação de dados do codec menor será o tamanho do arquivo,
mas em contrapartida maior será o trabalho do processador de vídeo para
descompactar, interpretar e exibir o conteúdo.
Outro problema da compactação
excessiva é a diminuição da taxa de amostragem. Um vídeo compactado a 8 bits em
4:2:0 terá menos definição de cor e de separação nas bordas de cores
diferentes. Isso diminuirá a capacidade de correções e de aplicação de efeitos
como o cromakey na hora da edição e
finalização do trabalho. Já um formato compactado com taxa de 10 bits e esquema
4:2:2 terá muito mais flexibilidade de ajustes e precisão de cores. Por outro
lado, formatos sem compressão com taxas de 12 ou 14 bits e amostragem 4:4:4 tem
uma definição e separação de cores em nível altamente avançado, se prestando
para produções de cinema e televisão de alto padrão.
Mas em 80% dos casos, esse tipo
de qualidade é desnecessário. Além de exigir espaços muito maiores de
armazenamento e computadores muito mais potentes, encarece e aumenta o tempo de
finalização. Então, apesar da qualidade máxima, se torna contraproducente e inviável.
Se conhecermos as características
de cada tipo de fluxo de vídeo e áudio e seus respectivos codificadores,
podemos escolher, por exemplo, que tipo de câmera utilizaremos em determinado
trabalho ou mesmo, dentro do menu de opções de configuração de vídeo da câmera,
escolher o formato mais interessante. A
mesma coisa se passa com a escolha do formato e parâmetros para exportação do
vídeo pronto para o cliente final.
Grande abraço!
Marcelo Ruiz
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Marcelo Ruiz
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