17/09/2012

E a vergonha continua... até quando?



Recebo uma mala direta via email de um conceituado revendedor de produtos broadcast aqui do Brasil. Me oferecem a última novidade em câmera de grande formato. O título do anúncio é chamativo: “BlackMagic está revolucionando a cinematografia digital”. Propaganda enganosa? Não. A afirmação, embora com um pouco de exagero, é correta. O equipamento é realmente bom? Sim. Até já falei dele aqui no blog. Uma bela aquisição.

Vejo o preço informado no anúncio. Perco o tesão. É para desanimar qualquer um que esteja lutando na nossa área para tentar melhorar e oferecer serviços de qualidade ao cliente. Simplesmente tentam me empurrar um valor exatamente 100% maior que o preço de venda ao público sugerido pelo fabricante. O equipamento custa, ao público, US$ 2.995,00 ou cerca de R$ 6.289,00 com a cotação de hoje do dólar (R$ 2.10).  No Brasil, sai por incríveis R$ 12.549,00!


Mesmo que pudéssemos comprar pelo valor sem impostos, frete e lucro do revendedor, os R$ 6.289,00 já seriam proibitivos para a maioria dos pequenos empresários do setor, pois o dólar a R$ 2,10 pode ser bom para os exportadores brasileiros, pois nossos produtos ficam com preços competitivos lá fora. Mas para quem não exporta nada e depende integralmente de comprar equipamentos importados para trabalhar, essa conta não fecha.

Isso sem falar que o preço sugerido pelo fabricante já contempla a margem de lucro do revendedor. Provavelmente, tirando a margem de lucro de revenda, que digamos seja uns 25% na terra do Tio Sam, o valor para venda em atacado para os revendedores seja de US$ 2.250,00 ou menos. Mas ainda assim, R$ 4.500,00 é um valor elevado, se levarmos em conta que é só pelo corpo da câmera. Ainda faltam as lentes, um follow-focus, um para-sol, tripé apropriado, monitor de preview, o SSD-HD para gravar o vídeo e outras cositas mais.

Essa conta, aqui no Brasil não fecha por menos de R$ 25 mil reais, se forem compradas lentes baratas. E o retorno? Nos Estados Unidos, uma filmagem de casamento custa, nos profissionais mais barateiros, pelo menos US$ 600,00 por duas horas de trabalho (lá eles tem uma espécie de pacote padrão fast-food) e o profissional fica apenas o tempo contratado. Se precisar ficar mais, cobra mais. Lá a câmera com um jogo de lentes usadas de qualidade razoável e demais acessórios sai na casa dos US$ 7.000,00. Com  11 contratos o profissional pagará seu investimento.

Aqui no Brasil, com profissionais tendo que cobrar R$ 600,00 para enfrentar a concorrência feroz, o equipamento se pagaria somente após 42 trabalhos. Com sorte, isso seria conseguido em um ano de ralação. O profissional americano com a mesma sorte, faria suas 11 cerimônias em dois meses. O restante do ano ele faria o lucro, pagaria as despesas e guardaria algum para comprar um novo equipamento. Sim, porque ainda tem isso. Câmera de vídeo agora é meio descartável. Só dura uma temporada. O cinegrafista brasileiro, provavelmente após um ano, ainda estaria pagando o empréstimo que tomou no banco para a compra do equipamento e já estaria vendo seu instrumento de trabalho virar sucata tecnológica.

Então não se trata apenas de isenção de impostos. Alguns setores produtivos no Brasil precisam de um dólar subsidiado. Se o Banco Central compra dólares a preço menor que o mercado, para segurar a alta e favorecer os exportadores, porque não vender dólar mais barato aos micro e pequenos empresários que precisam importar bens de capital? E mais ainda, é necessário atrair fabricantes de equipamentos profissionais de vídeo e cinema para produzirem no Brasil. Praticamente 95% desses equipamentos são importados.

Precisamos pelo menos no momento, de uma política que nos isente de impostos e da famigerada cota de US$ 500,00 que inviabiliza a compra direta, através dos Correios e outras empresas de transporte, da maioria dos equipamentos que precisamos para produzir. Até quando o governo vai voltar as costas para o nosso setor? Até quando vamos continuar essa classe desunida e muitas vezes mesquinha que não consegue se articular? Até quando vamos continuar nos arriscando na compra de contrabando ou malocando equipamentos da alfândega nas viagens ao exterior?

Grande abraço a todos!

Marcelo Ruiz

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