29/01/2012

Organize e racionalize seu fluxo de trabalho de edição de vídeo e obtenha melhores resultados e rapidez no processo.

Possuindo ou não uma workstation top ou usando um computador mais modesto, você sempre obterá mais vantagens e terá menos dores de cabeça organizando seu fluxo de trabalho e racionalizando as tarefas no processo de edição.

Misturar bananas, melancias e laranjas com casca e tudo dentro do mixer e bater não vai te dar um suco de frutas agradável. Você imagina que ganhará tempo, mas no fim terá um produto que, mesmo tendo as propriedades benéficas do suco bem preparado, será difícil de saborear.

O processo de edição de um vídeo, qualquer que seja sua finalidade, tamanho ou características passa por etapas bem distintas. Cada uma visando a preparação do seu material bruto para a etapa seguinte. Pular ou adiantar uma etapa certamente lhe trará dores de cabeça e prejudicará a qualidade do trabalho final.

Vamos a receita de nossa vitamina saborosa:

1.    Claquete não é frescura de diretor, coisa de cinema ou sempre dispensável.

A claquete foi inventada junto com o cinema 120 anos atrás e ainda está aí. Cada vez mais moderna com os modelos digitais. Mas você não precisa sair correndo e gastar R$ 2.000,00 para comprar uma. Esqueça o bloco e a caneta (por enquanto),  pois eles trapalham mais do que ajudam no set de filmagem. Arrume um pedaço de acrílico branco fosco (a melhor escolha) ou um compensado de 5mm coberto com fórmica branca lisa (qualquer marceneiro faz para você por R$ 20,00) faça um furo em um dos cantos e amarre um barbante com uma caneta preta dessas que se usam em quadros brancos. Tinta que apaga com qualquer pedaço de pano ou papel higiênico.

Coloque o nome do trabalho, data, hora, local e o que mais precisar anotar. Deixe o centro vazio. Antes de gravar cada cena anote do que se trata a ação e o timecode (TC) da sua câmera. Somente o inicial da cena, o último você deduz olhando o inicial do próximo take. Se está repetindo a cena várias vezes, quando ficar satisfeito, anote a palavra boa em baixo do TC dessa ultima tomada e grave mais uma só para garantir usando esse mesmo TC. Na hora de decupar você saberá que haverão 2 takes com o TC repetido. O sem a palavra boa foi o bom e o próximo o que você repetiu para ter 2 bons. Geralmente esse último é o melhor.

Crie disso um hábito. Não desista. Deixe sempre sua claquete ( o tamanho pode ser 20 x 15 cm pois vai posiciona-lo sempre perto da lente) dentro da case da câmera que você vai utilizar. Faça isso em todas as cenas.

2.    Decupe o material antes de passar para a fase de edição.

Depois da sua captação concluída, assista aos vídeos sem perder tempo em  passar para o computador. Principalmente se usar fita MiniDV. Se não tiver um deck use a própria câmera ligada a um monitor. Faça isso de preferencia junto com as pessoas que vão editar o conteúdo. Se for você mesmo peça ajuda a outra pessoa para assistir com você, sempre que possível. Duas cabeças e quatro olhos pensam e vêem melhor que uma só. Escolha as cenas que serve e que vai utilizar. Anote eu um bloco os timecodes gravados nas cenas (agora o bloquinho tem utilidade).

Agora você já tem todas as cenas que precisa escolhidas e catalogadas. E também verificou se faltou algo para captar e a qualidade do material. Se for preciso, repita o que for necessário e possível. Se não pode ser repetido, pelo menos você já sabe onde terá problemas na edição e já pode ir pensando nas estratégias para contorna-los.

3.    Capture ou transfira para a ilha de edição o material a ser editado.

Pegue seu bloco de anotações onde você marcou todas as cenas, seus TC’s e locais (fitas ou cartões de memória) onde estão gravadas e transfira o material para seu computador.

Isso também dará um certo trabalho. Mas resista a idéia de copiar logo tudo com preguiça de procurar os trechos certos nas fitas ou cartões.  Caso contrário você  terá realmente perdido tempo em usar a claquete e decupar todo o  material.

4.    Comece a edição do começo...

Agora não é hora de colocar os bois na frente da carroça. Você não vai colocar  transições e seus efeitos mirabolantes e maravilhosos entre as cenas. Abra um projeto no seu software de edição que seja igual ou mais se assemelhe ao material captado. Esqueça o formato final de entrega.

Coloque todas as cenas em uma timeline apenas, na ordem em que elas devam ficar no filme final. É fácil porque você já sabe os timecodes de cada uma delas.
Coloque uma após a outra nos tempos exatos de duração e sem efeitos de transição. Somente corte seco.

Observe a mudança de uma cena para a outra, verifique a luz e a cor de cada uma. Estão iguais? Se precisar fazer ajustes agora é a hora. Corrija a cor, contraste e brilho e balanço de branco de cada tomada. Cuidado para não usar parâmetros diferentes para cenas gravadas em  um único local e sob a mesma luz. Se corrigir uma cena aplique os mesmos parâmetros nas demais sob as mesmas condições.

Lembre-se: essa correção se chama primária. Deve normalizar todo o material. Efeitos especiais de cor não serão feitos nessa etapa.

Não se esqueça do áudio. Se as cenas possuem áudio em on normalize todo o áudio e retire os ruídos nessa etapa. Mais uma vez não faça ajustes especiais. Apenas deixe o áudio com ganho uniforme, sem pulos de volume entre as passagens de cena. Mais tarde você editará novamente esse áudio.

5.    Exporte sua sequencia com correção de cor e áudio sem dó nem piedade!

Já vi muitos editores reclamarem comigo que isso daria mais trabalho, que eles poderiam ter que adiantar ou avançar uma cena, seja por necessidade da edição ou por pedido do cliente (puxa mas você cortou minha tia que estava lá no fundo na hora que ela ia aparecer...). Tudo bem que a tia estava fora de foco com o dedo no nariz... fazer o que? O cliente manda mesmo não entendendo nada de vídeo.

Aqui está o primeiro grande engano. Colocar uma cena extra, ou puxar um trecho para começar ou terminar antes ou depois, depois do copião pronto é mais simples do que parece. E editar um vídeo em AVCHD com 3 pistas de vídeo sobrepostas é um sofrimento que ninguém merece, mesmo tendo uma estação rápida. Faz tudo demorar sem necessidade.

Agora que eu já te convenci disso, exporte seu copião, com cor, luz e áudio corrigidos e salve esse primeiro projeto. Se você filmou em AVCHD agora é a hora de transformar tudo para um formato mais leve. Exporte em MPEG2 com o restante das configurações iguais (taxa de quadros, tamanho do frame, relação de aspecto, etc) Mostre a seu cliente sem medo de ser feliz, mas antes avisando e explicando o que é um copião.

6.    Comece tudo de novo.... abra um novo projeto.

Copião aprovado pelo cliente sem ressalvas? Festeje! Você é o cara! Não? Tem alterações? Sem problemas. Volte a seu projeto inicial e corrija apenas os trechos necessários.

Aqui vai uma dica: Se o vídeo é longo, corte apenas as cenas que precisam ser mudadas e coloque em outra trilha acima da que você usou para exportar o copião. Na hora de exportar deixe o mesmo tamanho e o intervalo entre as cenas mudadas. Exporte novamente. No final você terá um vídeo exatamente do mesmo tamanho, só que com tela preta onde não foi modificado.

Se o vídeo for curto e sua estação de trabalho boa, talvez valha a pena exportar um novo copião inteiro. Caso contrário abra um novo projeto e dessa vez use as configurações de tamanho de frame idênticas ao trabalho final. Se filmou em 1920 x 1080 e o cliente que DVD, abra um projeto em 720 x 486. Se foi filmado em progressivo continua assim. Se foi entrelaçado passe para progressivo.

Agora chegou a hora de brincar no parquinho! Coloque o copião na nova timeline (não crie várias sequencias em um projeto, crie um projeto para cada etapa. Você um dia vai me agradecer por isso!). Se houveram modificações pegue o segundo copião e coloque em outra trilha de vídeo acima da primeira corte onde for preciso e encaixe os pedaços novos na trilha do copião original. Apague a trilha que sobrou apenas com os pedaços pretos. Muito cuidado com o áudio para não ficar duplicado e mais alto. Faça a mesma coisa com ele e apague a trilha de áudio que foi criada com a segunda trilha de vídeo.

Se você filmou em HD vai notar que as cenas estão maiores que a janela de vídeo. Obvio! Você está colocando frames maiores (1920 x 1080) em uma janela menor (720 x 486)! Mas isso lhe traz uma grande vantagem: pode usar o comando escala e ajustar para o tamanho desejado, fazendo de quebra um enquadramento melhor de suas cenas. E acredite em mim: esse é o melhor método de exportar alta para baixa sem perder qualidade. Muito melhor que usar o Media Encoder no Premiere ou exportar toda a timeline do Premiere para o Encore ou outro programa de autoração como o Nero (que eu detesto, por sinal).

Use sua criatividade. Com o frame maior você pode brincar com efeitos de zoom que não estavam na filmagem original, fazer movimentos de pan e tilt que foram esquecidos pelo câmera, cortar teto e chão e o que mais sua criatividade encontrar.

Quer brincar com a cor em algumas cenas? Fazer um P&B em outras, desfocar a imagem? Faça agora e finalize sua segunda prova de vídeo. O que você ganhou até agora? Simples: mais velocidade para os ajustes, para o render e para a exportação.

7.    Pós-produção sem pós-traumas...

Quer uma opinião do cliente? Mostre novamente sua segunda prova a ele. Você o verá sorrindo desta vez (sim.. o cliente, que não conhece os mistérios do cinema, sempre torce o nariz quando vê o copião).

A essa altura, em caso de filmagens de eventos sociais, o cliente já deve ter as fotos que finalmente foram entregues pelo fotografo e as músicas usadas na cerimônia ou outras que ele, agora inspirado pelo segundo tratamento, quer acrescentar. Se ele fizer a famosa pergunta – Onde está aquele efeito de pombinho trazendo as alianças? – (como eu adoro isso... grrrrrrr) e outros efeitos mirabolantes dos FX da vida, bata nele!

Brincadeira... veja onde ele quer tais efeitos e anote.  Volte a seu primeiro projeto, que agora contem os cortes iniciais e as cenas que foram corrigidas, mas ainda contem todas as cenas brutas onde você pode substituir os cortes secos pelas transições que exigem wipes e outros recursos. Exporte  novamente os trechos necessários em alta definição, com os trechos pretos entre as cenas. Salve esse projeto e abra um novo (estamos agora no terceiro projeto).

Se o segundo tratamento foi feito em baixa definição porque a saída era DVD, o terceiro projeto será também em baixa. Dessa vez a maior parte do vídeo caberá na janela, já que o segundo tratamento foi exportado em baixa. Coloque em uma segunda trilha de vídeo o filme contendo os trechos com os efeitos especiais e veja se está tudo sincronizado e não existem frames repetidos.

Coloque as fotos e todo o restante da computação gráfica como cartelas e letreiros. Tudo isso pode ser feito em baixa mesmo, pesando menos na hora do render. Coloque as musicas, efeitos de som e todo o restante e exporte seu material final.  Use o programa que desejar para autorar o DVD e pronto.

8.    O projeto terminou, cliente satisfeito... e agora o que eu faço com o material bruto?

Se o cliente não quis o trabalho em alta-definição, mas pode querer no futuro, guarde apenas uma copia do primeiro copião com as modificações. Abra o primeiro projeto e lá você deve ter: as cenas cortadas na decupagem. As cenas incluídas depois que o cliente viu o copião e os efeitos especiais que ele pediu. Exporte essa timeline em alta definição em um arquivo H.264 HDTV e guarde. O tamanho será pequeno e provavelmente caberá mesmo em 2 DVD (50 min em cada DVD no formato de arquivos de dados) ou em um bluray (mais seguro e durável).
Não guarde esse material em HD pois além de mais caro, eles podem cair, apagar, dar defeitos. Os bluray são bem confiáveis para isso.

E o material bruto do cliente? Se você filmou tudo em fita MiniDV pode guardar essas fitas com em sua produtora ou vender ao cliente. Se filmou em cartão pode passar para outro meio de armazenagem e vender ao cliente. Vender? Sim. Lembre-se que você foi contratado para fazer um filme e entregar um resultado ao cliente. As cenas brutas são sua propriedade. Se o cliente não quiser você não tem obrigação de guardar para ele, afinal você não é empresa de armazenamento de dados. Seu quiser guardar como registro de seu trabalho tudo bem. Caso contrário, mediante a negativa do cliente em comprar esse material, reutilize as fitas e se tiver gravado em cartões formate ou apague.

A maioria de nós tem o hábito de tentar editar todo um trabalho de uma vez. Alguns editores chegam a trabalhar com 10 ou mais trilhas de vídeo superpostas em um projeto. Além disso, entopem a estação de trabalho porque capturaram todo o material bruto sem seleção. Não bastasse tudo isso, aplicam nesse projeto pesado efeitos FX, transições, fotos, computação gráfica, trilhas sonoras e mais outras coisas. Como podem querer que a workstation funcione direito? Nem a melhor delas vai apresentar desempenho satisfatório.

Lembre-se: para cada nova trilha de vídeo com um arquivo diferente da primeira (segunda, terceira, etc, câmeras ou fotos) você está somando mais frames por segundo ao seu trabalho. Mesmo uma workstation de ponta, que possua sistema de RAID 0, pode suportar uma taxa de escrita e leitura nos discos, de no máximo 250 Mb por segundo. Essa taxa é suficiente para proporcionar uns 45 frames por segundo de exibição de vídeo em HD.

Se você  tem um projeto com uma timeline com 2 trilhas de vídeo a 30 frames por segundo, significa que a soma das duas trilhas dão 60 frames por segundo. Isso é mais do que os HD’s poderão ler ou gravar. Então seu vídeo vai picotar. Mesmo com um programa como o Premiere CS5 que usa o render pela GPU.
Só para comparar, essa mesma taxa de leitura e escrita de 250 Mb/s permite a exibição de mais de 200 quadros por segundo em baixa definição. Então para projetos em SD você poderia ter até 6 trilhas de vídeo simultâneas (6 x 30= 180 fps) em sua timeline e ainda sobraria uma folga de uns 20 quadros por segundo.

Experimente esse fluxo em um próximo trabalho e depois me conte os resultados. Tenho certeza que você vai se surpreender. Vai achar complicado no início, mas depois se acostumará.

Grande abraço a todos!

Marcelo Ruiz



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