22/01/2012

Qualidade das lentes, efeito de barril e enquadramento: algumas dicas.

Eu estava vendo algumas fotos de uns amigos em uma rede social e me deparei com uma foto bastante estranha. Nela, as pessoas que estavam nas extremidades do quadro pareciam muito gordas. Como eu as conheço, percebi logo que se tratava do efeito de barril. Baixei a foto, fiz algumas medições e depois alguns ajustes. Mandei de volta para o dono, que obviamente ficou muito desapontado com a câmera recém adquirida em uma viagem ao exterior. Ao escrever algumas explicações e dicas para ele, percebi que o assunto poderia ser interessante para nosso blog.

Toda lente para fotografia, vídeo ou cinema tem algum grau de defeito. Mesmo as marcas mais caras. Não se trata de descaso do fabricante, mas apenas a interferência das leis da física e da ótica. É virtualmente impossível fazer uma lente perfeita. O formato de uma lente, necessário para que ela cumpra seu papel, acaba por desviar a luz e causar aberrações. Essas aberrações podem ser físicas ou cromáticas. Acontecem por conta das impurezas e imperfeições do vidro, que mesmo sendo controladas e existirem em proporções muito pequenas, no processo de fabricação das lentes, acabam por desviar a luz que passa por elas.

Logicamente os fabricantes procuram usar os melhores materiais, as melhores técnicas de fabricação e um rígido controle de qualidade para minimizar esses efeitos e defeitos. Por isso as lentes boas são tão caras. As câmeras profissionais tem lentes melhores que as destinadas ao mercado amador. Mesmo entre as profissionais, há uma grande diferença de qualidade dependendo do modelo. Normalmente as lentes tendem a ser muito mais caras que a própria câmera e podem ser usadas por anos ou mesmo décadas, tal o seu grau de qualidade. ter um bom jogo de lentes é mais importante que comprar o modelo mais caro de câmera.

Veja a foto abaixo. Talvez você não notasse o defeito da distorção de barril e achasse que as duas pessoas a esquerda e a direita nas extremidades da foto tivessem tomado mais chopes do que deviam... :-)  Mas se olhar com bastante atenção vai perceber que as proporções dos corpos do homem e da mulher não condizem com o tamanho de suas cabeças e que no geral a foto parece se alongar desproporcionalmente  a partir de um certo ponto, do centro para as extremidades. As três pessoas que estão mais ao centro, no entanto parecem normais. Isso se deve ao efeito de barril, que tende a curvar a imagem nas extremidades, tal como o formato de uma barrica de madeira.


Esse defeito é muito comum em lentes grande angulares e olho-de-peixe, dada a necessidade de curvatura acentuada da lente para captar um maior angulo de abertura, As lentes das máquinas fotográficas digitais de bolso, que geralmente são minúsculas e quadradas são as que mais mostram essa aberração física. Lentes normais redondas mas de pequeno diâmetro também podem deformar as imagens dessa forma, principalmente quando são de distância focal variável (zoom), principalmente na sua distância focal mínima (modo wide).

Quando se usa uma câmera amadora com essas características e mesmo câmeras profissionais, com lentes de pequeno diâmetro, é manter o motivo principal da foto ou do filme no centro da lente, deixando as bordas enquadrarem apenas o plano de fundo. Algumas câmeras de baixo custo destinadas ao segmento profissional, além das amadoras, como a Panasonic AG-AC7 e a Sony HVR-HD1000, podem apresentar esse problema.

Vendo a imagem a seguir, onde fiz algumas marcações e fiz uma superposição da foto original com a foto corrigida, podemos observar que a região da foto dentro do círculo vermelho, mais ao centro da lente, quase não sofreu o efeito. A região dentro do círculo amarelo, apresenta o efeito de barril, mas dentro de um limite aceitável para uma foto não profissional. O que está além da linha amarela é inaceitável, mesmo para uma foto casual.


Aproveitando a mesma imagem, vamos falar um pouco de outros dois itens igualmente importantes que podem contribuir para aumentar ou minimizar os defeitos de uma lente. Se observarmos a marcação do centro da imagem, veremos que todas as pessoas estão fora desse centro. As três pessoas à esquerda estão na mesma altura e as duas da direita um pouco abaixo. Mas as cinco estão fora do centro da foto. 

A foto foi tirada de cima para baixo, o que contribui para aumentar o tamanho dos quadris e das pernas do homem e da mulher. Essas partes do corpo dos dois acabam ocupando 1/3 de toda a imagem, distraindo nosso olhar para o mais importante: os rostos. E no caso do efeito de barril, uma forma de evitar ou minimizar o problema é procurar usar mais o centro da lente. 

Regra dos terços

Quase todas as câmeras digitais hoje, mesmo as maus baratas, possuem um recurso de colocar no visor ocular e no LCD essas linhas guia. Elas são baseadas na Proporção Áurea e servem para ajudar o fotógrafo a enquadrar os elementos de uma foto. Mesmo algumas filmadoras possuem o recurso da linhas auxiliares da Regra dos Terços. 

Essa regra nos diz que todos os motivos enquadrados no cruzamento de uma linha vertical e outra horizontal será valorizado na foto, tornando a composição naturalmente agradável. Não importa em qual dos quatro pontos escolhidos, embora essa escolha deva ser determinada pelo tipo de foto. Uma pessoa fotografada contra um belo céu azul deve ser colocada nos pontos inferiores para que consigamos mostrar toda a extensão deste e do horizonte. Se há um jardim florido abaixo da pessoa, ela deve ser enquadrada em um dos pontos superiores. Isso depende muito dos elementos que compõe nossa imagem e do tipo de fotografia. 

Notem que na foto acima, nenhum personagem ficou posicionado no encontro das linhas. Somente o copo de chope ao lado da figura feminina ficou mais próximo de um cruzamento e ele acaba chamando nossa atenção mais do que o rosto da moça mais ao fundo ao lado do rapaz. 

Vamos observar agora a foto abaixo. Nela não foi usado nenhum efeito de correção de lentes no Photoshop. Apenas foi usado o recurso de cortar, girar e re-enquadrar a foto usando a regra dos terços.



O defeito causado pela distorção de barril ainda está presente, mas foi minimizado pelo novo enquadramento. A imagem foi ligeiramente rotacionada no sentido anti-horário, o que alinhou as pessoas em relação a linha guia horizontal superior. A mulher em primeiro plano à direita, que antes parecia muito mais baixa do que os demais, está agora mais valorizada.  O rosto do segundo homem está no encontro de duas linhas guia, assim como o da menina ao lado da mulher à direta da foto. O copo de chope está em outro cruzamento de linhas. 

As pernas do casal em primeiro plano foram cortadas, assim como as costas de ambos, que estavam anormalmente grandes pelo efeito de barril. essa nova composição nos mostra o motivo real da foto, que era retratar um grupo de pessoas reunidas em um bar para tomarem alguns drinques e conversar ao redor da mesa com alguns petiscos. 

A foto a seguir mostra outra forma de correção do problema, onde foram usados outros recursos do Photoshop onde quase nada foi perdido em relação a foto original. É um processo bem mais trabalhoso e sem dúvida mais difícil e demorado do que perder algum tempo a mais na hora do enquadramento e posicionamento das pessoas antes de apertamos o botão de disparo.



Vale ressaltar que em uma fotografia única, fica bem mais fácil corrigir o problema. Imaginemos um vídeo com 3 minutos desse mesmo plano. A correção não seria tão perfeita, além de consumir muitas horas de trabalho na ilha de edição. Portanto vale a pena relembrar que fotografia e vídeo são ar artes do enquadramento, da busca da  proporção estética e do cuidado com a composição da cena. Tal qual uma pintura. Aliás... fotografar ou filmar nada mais do que pintar com a luz...

Dica:


Para saber o grau de distorção da lente  de câmera fotográfica ou de uma filmadora, bem como de qualquer outra lente que vá usar em seu equipamento,  basta fotografar uma parede com revestimento cerâmico ou que contenha algum elemento de decoração com linhas retas horizontais e verticais a uma certa distância. Se a lente for de distância focal variável (zoom) tire diversas fotos usando o zoom máximo, o wide máximo e uma posição intermediária. Depois observe a imagem para ver onde estão as zonas mais precisas e as que apresentam maior distorção. Essas zonas não são uniformes. se observarmos a segunda foto deste artigo (com as marcações), veremos que nessa câmera a zona mais precisa está ao centro ( o mais comum e esperado) porem ligeiramente deslocada para a parte  superior da lente.

Grande abraço a todos!

Marcelo Ruiz

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